Um megaempreendimento bilionário, com 52 quilômetros de túneis atravessando a Cordilheira dos Andes, não parece ser exatamente o projeto mais viável em meio à forte instabilidade por que tem passado a Argentina. Um dos maiores conglomerados empresariais do país, com investimentos em setores tão diversos como aeroportos e semicondutores, a Corporación América resolveu desafiar obstáculos como a altitude andina e a turbulência do mercado financeiro para transformá-lo em realidade.
O grupo, controlado pela família Eurnekián, pretende destravar neste ano o ambicioso plano de construir uma travessia ferroviária para conectar as malhas argentina e chilena. E busca um sócio brasileiro para isso. "Pode ser tanto uma operadora como uma construtora", diz Martín Eurnekián, diretor da Corporación América e sobrinho de Eduardo Eurnekián, principal acionista do grupo e apontado como o quarto homem mais rico da Argentina pela revista "Forbes". Ele diz ter iniciado discussões com algumas empreiteiras, principalmente a Camargo Corrêa, e com a América Latina Logística (ALL). Admite, porém, que as conversas não avançaram em direção a uma parceria concreta. "Queremos envolver interesses brasileiros no projeto."
O empreendimento, orçado em aproximadamente US$ 3,5 bilhões em sua primeira fase, é conhecido como Corredor Bioceânico e garantiria a travessia dos Andes sem nenhuma interrupção durante o ano. Hoje, a única forma de levar carga de um lado a outro da cordilheira é por caminhão, usando a passagem rodoviária batizada de Cristo Redentor. Mas, por problemas climáticos, ela fica totalmente fechada pelo menos 60 dias por ano - há risco permanente de fechamento entre maio e outubro.
Mesmo quando tudo está bem, a travessia das montanhas demora 12 horas atualmente e se encontra perto do limite de sua capacidade, com 5 milhões de toneladas de cargas sendo movimentadas por ano entre os dois lados.
O projeto do Corredor Bioceânico prevê um novo trecho ferroviário, com 205 quilômetros de extensão e composições movidas a eletricidade, ligando Luján de Cuyo (Argentina) e Los Andes (Chile). Em altitude menor, o traçado evita grandes inclinações e permite a circulação a 80 km por hora, fazendo com que a travessia da cordilheira dure apenas quatro horas - e sem risco de fechamento. Para isso, é necessária a construção de um complexo de túneis que soma 52 quilômetros.
Três etapas estão previstas no empreendimento, que possibilitará ligar os portos do Atlântico e do Pacífico, a partir de 2025. Na primeira fase, que começaria a ser construída em 2015 e levaria dez anos, estima-se uma capacidade máxima de 24 milhões de toneladas por ano. Projeta-se um único túnel, em via simples, com a perspectiva de duas ampliações mais adiante. No futuro, a capacidade poderia chegar a 77 milhões de toneladas anuais. Os estudos de viabilidade técnica indicam que esse volume de carga será atingido na década de 2040.
Um consórcio liderado pela Corporación América concluiu todos os estudos de demanda e de engenharia para o projeto. Foram aplicados cerca US$ 25 milhões no desenvolvimento dos trabalhos. A chilena Navieras, a japonesa Mitsubishi, a italiana Geodata e a argentina Contreras Hermanos também integram o consórcio. As participações acionárias de cada um são sigilosas.
De acordo com Eurnekián, cargas da região Sul do Brasil que têm a Ásia ou a Costa Oeste dos Estados Unidos podem tirar proveito do novo corredor, seguindo por ferrovia pela Argentina e pelo Chile até um porto no Pacífico.
O executivo garante que isso permitiria aos exportadores brasileiros reduzir tempo e custos nas operações. "Hoje, boa parte dessa carga segue por navio pelo Estreito de Magalhães, o que é caro, ou pelo Canal do Panamá, que está saturado", diz Eurnekián.
Um dos objetivos declarados da Corporación América, ao buscar um sócio verde-amarelo, é conquistar o engajamento do governo brasileiro no Corredor Bioceânico. Outro benefício potencial, caso haja a entrada de uma construtora nacional, são os financiamentos do BNDES às exportações brasileiras de bens e serviços usados nas obras civis.
Mesmo a entrada de um investidor brasileiro, se não for possível avançar em tratativas com uma operadora ou com uma empreiteira, é bem vinda. As conversas com a ALL, por exemplo, dificilmente vão prosseguir porque a empresa teve suas concessões na Argentina retomadas pelo governo. Enquanto isso, no Brasil, ela sofre pressões do governo para investir mais na malha paulista - o que limita o espaço para novas aventuras pela América do Sul.
O financiamento é justamente um dos pontos críticos do projeto, devido à situação macroeconômica argentina, que tende a encarecer o crédito. Detalhes do empreendimento já foram apresentados a instituições multilaterais de financiamento. Em 2009, a Argentina e o Chile assinaram um tratado de "integração física e complementação econômica", formando uma entidade binacional que se encarregará da licitação do Corredor Bioceânico.
Os estudos de viabilidade foram apresentados à binacional, pelo consórcio privado, em julho de 2011. A expectativa de Eurnekián é que a concorrência seja preparado neste ano. O consórcio encabeçado pela Corporación América terá que participar normalmente da disputa. "Mas, obviamente, levamos vantagem por conhecermos em detalhes o projeto", diz o executivo argentino. Caso não saia vitorioso de uma licitação, o consórcio seria integralmente reembolsado pelos estudos executados, em modelo semelhante ao dos leilões de usinas hidrelétricas no Brasil.
Fonte: Valor Econômico
Publicada em:: 04/02/2014
O grupo, controlado pela família Eurnekián, pretende destravar neste ano o ambicioso plano de construir uma travessia ferroviária para conectar as malhas argentina e chilena. E busca um sócio brasileiro para isso. "Pode ser tanto uma operadora como uma construtora", diz Martín Eurnekián, diretor da Corporación América e sobrinho de Eduardo Eurnekián, principal acionista do grupo e apontado como o quarto homem mais rico da Argentina pela revista "Forbes". Ele diz ter iniciado discussões com algumas empreiteiras, principalmente a Camargo Corrêa, e com a América Latina Logística (ALL). Admite, porém, que as conversas não avançaram em direção a uma parceria concreta. "Queremos envolver interesses brasileiros no projeto."
O empreendimento, orçado em aproximadamente US$ 3,5 bilhões em sua primeira fase, é conhecido como Corredor Bioceânico e garantiria a travessia dos Andes sem nenhuma interrupção durante o ano. Hoje, a única forma de levar carga de um lado a outro da cordilheira é por caminhão, usando a passagem rodoviária batizada de Cristo Redentor. Mas, por problemas climáticos, ela fica totalmente fechada pelo menos 60 dias por ano - há risco permanente de fechamento entre maio e outubro.
Mesmo quando tudo está bem, a travessia das montanhas demora 12 horas atualmente e se encontra perto do limite de sua capacidade, com 5 milhões de toneladas de cargas sendo movimentadas por ano entre os dois lados.
O projeto do Corredor Bioceânico prevê um novo trecho ferroviário, com 205 quilômetros de extensão e composições movidas a eletricidade, ligando Luján de Cuyo (Argentina) e Los Andes (Chile). Em altitude menor, o traçado evita grandes inclinações e permite a circulação a 80 km por hora, fazendo com que a travessia da cordilheira dure apenas quatro horas - e sem risco de fechamento. Para isso, é necessária a construção de um complexo de túneis que soma 52 quilômetros.
Três etapas estão previstas no empreendimento, que possibilitará ligar os portos do Atlântico e do Pacífico, a partir de 2025. Na primeira fase, que começaria a ser construída em 2015 e levaria dez anos, estima-se uma capacidade máxima de 24 milhões de toneladas por ano. Projeta-se um único túnel, em via simples, com a perspectiva de duas ampliações mais adiante. No futuro, a capacidade poderia chegar a 77 milhões de toneladas anuais. Os estudos de viabilidade técnica indicam que esse volume de carga será atingido na década de 2040.
Um consórcio liderado pela Corporación América concluiu todos os estudos de demanda e de engenharia para o projeto. Foram aplicados cerca US$ 25 milhões no desenvolvimento dos trabalhos. A chilena Navieras, a japonesa Mitsubishi, a italiana Geodata e a argentina Contreras Hermanos também integram o consórcio. As participações acionárias de cada um são sigilosas.
De acordo com Eurnekián, cargas da região Sul do Brasil que têm a Ásia ou a Costa Oeste dos Estados Unidos podem tirar proveito do novo corredor, seguindo por ferrovia pela Argentina e pelo Chile até um porto no Pacífico.
O executivo garante que isso permitiria aos exportadores brasileiros reduzir tempo e custos nas operações. "Hoje, boa parte dessa carga segue por navio pelo Estreito de Magalhães, o que é caro, ou pelo Canal do Panamá, que está saturado", diz Eurnekián.
Um dos objetivos declarados da Corporación América, ao buscar um sócio verde-amarelo, é conquistar o engajamento do governo brasileiro no Corredor Bioceânico. Outro benefício potencial, caso haja a entrada de uma construtora nacional, são os financiamentos do BNDES às exportações brasileiras de bens e serviços usados nas obras civis.
Mesmo a entrada de um investidor brasileiro, se não for possível avançar em tratativas com uma operadora ou com uma empreiteira, é bem vinda. As conversas com a ALL, por exemplo, dificilmente vão prosseguir porque a empresa teve suas concessões na Argentina retomadas pelo governo. Enquanto isso, no Brasil, ela sofre pressões do governo para investir mais na malha paulista - o que limita o espaço para novas aventuras pela América do Sul.
O financiamento é justamente um dos pontos críticos do projeto, devido à situação macroeconômica argentina, que tende a encarecer o crédito. Detalhes do empreendimento já foram apresentados a instituições multilaterais de financiamento. Em 2009, a Argentina e o Chile assinaram um tratado de "integração física e complementação econômica", formando uma entidade binacional que se encarregará da licitação do Corredor Bioceânico.
Os estudos de viabilidade foram apresentados à binacional, pelo consórcio privado, em julho de 2011. A expectativa de Eurnekián é que a concorrência seja preparado neste ano. O consórcio encabeçado pela Corporación América terá que participar normalmente da disputa. "Mas, obviamente, levamos vantagem por conhecermos em detalhes o projeto", diz o executivo argentino. Caso não saia vitorioso de uma licitação, o consórcio seria integralmente reembolsado pelos estudos executados, em modelo semelhante ao dos leilões de usinas hidrelétricas no Brasil.
Fonte: Valor Econômico
Publicada em:: 04/02/2014
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