Cesar Mori Junior Cesar Mori Junior Author
Title: No balanço do trem
Author: Cesar Mori Junior
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Abril 14, 2009 Por Aline Lilian Talita Caetano Grandes rodas impulsionadas por extensas alavancas percorriam um caminho delineado por trilho...

Abril 14, 2009

Por Aline Lilian
Talita Caetano

Grandes rodas impulsionadas por extensas alavancas percorriam um caminho delineado por trilhos de ferro. Esses arcos sustentavam um conjunto de vagões, que por sua vez eram movimentados por uma locomotiva localizada na parte frontal de toda a composição. Esse era o ambiente de trabalho de Manoel Gamero Santaliestra, que dedicou 28 anos de sua vida ao manejo de máquinas ferroviárias.

Seu Lico, como é mais conhecido, recorda-se que era “moleque” quando começou a praticar na oficina dos trens. “A força do trem era desligada, para não correr o risco de a gente tomar choque quando mexesse nele”. Nessa época, ele e outros trabalhadores faziam de tudo, desde limpar até realizar a manutenção do veículo.

Seu Lico se lembra de ter atuado como ajudante na “Maria Fumaça”, uma locomotiva a vapor que fez tanto sucesso por seu som característico e pela fumaça que saía de sua chaminé. O trem saía da estação da Luz e seguia em direção a Jundiaí, percurso feito tanto de dia quanto de noite, “dependia da escala que a gente pegava”, menciona.

Com o passar do tempo, seu Lico aperfeiçoou seu trabalho e foi promovido a maquinista. Ele conduzia o trem desde a Luz até a estação de Paranapiacaba, onde carregava cargas e passageiros, em sua maioria operários. “A gente não conseguia saber quais eram as cargas, vinham todas fechadas em caixas. Só percebíamos as galinhas, porque os caixotes vinham mais abertos para que elas pudessem respirar durante a viagem”, entusiasma-se.

Maria Fumaça
Maria Fumaça

Nosso experiente maquinista conta que a velocidade máxima que os veículos podiam chegar era de 100 quilômetros por hora. “Geralmente o trem ficava pesado por causa do carregamento. Balançava muito”. Além disso, os maquinistas também se deparavam com a dificuldade de transportar os vagões. “Até Paranapiacaba a gente só conseguia levar dois vagões de cada vez por causa do peso que tinham. Quando retornávamos para a Luz, um maquinista ajudava o outro a subir o trem”, descreve alegremente. Seu Lico trabalhou inclusive em trens de subúrbio. “Andavam lotados de gente pra baixo e pra cima”, relembra.

Mas será que essa profissão que tanto contribuiu para o deslocamento de produtos e pessoas de um local a outro era bem recompensada financeiramente? Seu Lico reponde com um sorriso tímido um “mais ou menos” e acrescenta que “ganhava-se pouco, mas gastava-se pouco”, bem diferente dos tempos atuais.

O trem estava presente não só como “ganha pão” desse amável ex-maquinista, mas também como meio de transporte próprio e de sua família. “Já que nós funcionários tínhamos desconto de 75% como passageiros, sempre ia com a minha família a Guaxupé, em Minas Gerais, uma viagem que durava 12 horas, mas que valia a pena”, acrescenta.

Seu Lico se orgulha de ter passado quase três décadas nesse serviço, apesar de ser um trabalho “duro” e que exigia responsabilidade. Ele rememora esses bons tempos com bastante saudade. “As vezes eu até sonho que estou trabalhando no trem. É muito bom reviver essa época”.

Nosso maquinista de 87 anos finaliza seu relato transparecendo a sensação de dever cumprido. “De vagar a gente foi vivendo e estamos aí até hoje”, conclui seu Lico.

Seu Lino
Seu Lico

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