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| Um trem de alta velocidade na nova linha entre Pequim e Guangzhou serviço começou quarta-feira. Os trens reduziram em 13 horas a viagem | 
Os gastos no projeto ajudaram a economia chinesa duas vezes: em 2009, durante a crise financeira global, e no último trimestre do ano
Na manhã de quarta-feira a China começou a operar trens de alta 
velocidade na mais longa linha férrea do mundo, cobrindo em oito horas 
uma distância praticamente igual à de Nova York até Key West, na 
Flórida, ou de Londres, atravessando a Europa, até Belgrado.
Trens-bala trafegando a uma velocidade de 300 quilômetros por hora 
iniciaram o serviço regular entre Pequim e Guangzou, a principal 
metrópole a sudeste da China. Os trens mais antigos ainda em operação 
trafegam numa linha paralela e levam 21 horas para fazer o mesmo 
percurso. Os trens Amtrak, de Nova York a Miami, uma distância mais 
curta, ainda levam quase 30 horas.
A finalização dessa linha ligando Pequim a Guangzou é o mais recente 
indicativo de que a China retomou a construção rápida de um dos maiores e
 mais ambiciosos projetos de infraestrutura do mundo, uma rede de quatro
 estradas de ferro ligando o norte ao sul e quatro ligando leste a 
oeste, que atravessam o país.
Os gastos generosos no projeto ajudaram a impulsionar a economia 
chinesa duas vezes: em 2009, durante a crise financeira global, e 
novamente neste último trimestre, depois de uma breve, mas severa, 
desaceleração econômica verificada no trimestre anterior. 
A contratação de 100 mil trabalhadores por linha férrea reduziu o 
desemprego, mesmo quando a construção no setor privado passa por uma 
desaceleração em razão dos limites impostos à especulação imobiliária.
E essa rede nacional ajudou a reduzir a poluição do ar nas cidades 
chinesas e a demanda por diesel importado, liberando a capacidade das 
linhas férreas mais antigas para transporte de mercadorias, no lugar dos
 caminhões mais caros e mais poluentes.
Mas o sistema de trens de alta velocidade também foi bastante 
controvertido na China. A dívida para financiar a construção das linhas 
chegou a US$ 640 bilhões, sendo uma das razões mais visíveis do aumento 
da dívida total do país em relação à produção econômica e se aproximando
 dos níveis registrados no Ocidente.
Cada trem de passageiros retirado das linhas mais lentas dá espaço 
para três trens de carga, porque os trens de passageiros trafegam tão 
rápido que obrigam os trens de carga a parar frequentemente. Mas, embora
 os trens de alta velocidade tenham sido importantes para o aumento 
drástico do transporte ferroviário de carga, o Ministério das Ferrovias 
ainda não sabe de que maneira cobrar das grandes transportadoras de 
carga, muitas delas empresas estatais politicamente influentes, parte do
 custo das linhas de alta velocidade, que transportam apenas 
passageiros.
Os trens de alta velocidade também são muito mais caros que os trens 
mais antigos. Um assento na segunda classe nos novos trens-bala de 
Pequim a Guangzou custa 865 yuans (US$ 138), comparado com os 416 yuans 
(US$ 68)cobrados pelo assento mais barato em trens mais antigos, que 
também oferecem lugares estreitos e desconfortáveis por 251 yuans (US$ 
40).
As preocupações com essa rede de trens de alta velocidade chegaram ao
 ápice em julho de 2011, quando um trem-bala colidiu violentamente com 
outro próximo de Wenzhou, no sudeste da China, matando 40 pessoas. Uma 
investigação concluiu que um equipamento de sinalização quebrado foi o 
responsável pelo acidente. A China vinha operando trens de alta 
velocidade a 350 quilômetros por hora e, após aquele acidente, reduziu a
 velocidade a 300 quilômetros. O acidente deixou clara a preocupação com
 a velocidade com que a China construiu seu sistema de linhas férreas 
para trens de alta velocidade.
A primeira linha, de Pequim a Tianjin, foi inaugurada uma semana 
antes da Olimpíada de 2008. Depois de pouco mais de quatro anos, o país 
conta agora com 9.349 quilômetros de linhas.
O sistema de aviação da China tem uma boa reputação internacional no 
campo da segurança e acidentes fatais ocasionais não chamaram muita 
atenção. Especialistas em segurança de transporte atribuem a fascinação 
da população com relação ao acidente em Wenzhou em parte à novidade do 
sistema e em parte à desconfiança dos chineses com relação ao que 
consideram tecnologia doméstica, ao contrário dos jatos da Boeing ou 
Airbus usados pelas empresas aéreas chinesas.
Entretanto, os executivos das ferrovias japonesas se queixam de que a
 tecnologia chinesa é muito copiada da deles, acusação que seus 
contrapartes chineses negam energicamente.
A principal alternativa ao trem para muitos chineses está nas 
rodovias, cuja reputação é péssima pelos padrões internacionais. 
Acidentes periódicos de ônibus que fazem ligação entre cidades têm 
provocado a morte de dezenas de pessoas de uma só vez, ao passo que 
acidentes com carros particulares são frequentes num país onde quatro 
quintos dos novos carros são vendidos para motoristas principiantes, com
 pouca experiência na direção de um automóvel.
Os voos entre Pequim e Guangzou duram 3h15. Mas, na China, os 
viajantes precisam chegar ao aeroporto pelo menos uma hora antes do voo,
 em comparação com os 20 minutos exigidos no caso dos trens-bala, e os 
aeroportos costumam ficar mais distantes do centro da cidade do que as 
estações ferroviárias que abrigam esses trens.
A compra de terra é a parte mais difícil para a construção de linhas 
férreas para trens-bala no Ocidente, porque os trilhos precisam estar 
perfeitamente em linha reta. Este também tem sido um problema na China. 
Embora os governos provinciais e locais tenham forçado os proprietários a
 vender seu terreno para a construção das linhas, houve conflitos por 
causa da valorização da terra perto das estações ferroviárias. O 
resultado foi que poucas lojas e outros comércios surgiram em torno 
dessas estações por onde passam dezenas de milhares de pessoas 
diariamente.
O segmento na direção sul da nova ferrovia, que faz o percurso de 
Guangzou e Wuhan, foi inaugurado há quase três anos e já está 
congestionado, o que limita o número de assentos disponíveis para uma 
viagem em todo o percurso até Pequim durante as horas de pico. Os 
viajantes regulares disseram que os trens de 800 lugares, com 
frequência, já têm os assentos todos vendidos antecipadamente no caso de
 pelo menos 10 trens nas manhãs de segunda-feira e noites de 
sexta-feira, apesar de partirem a cada quatro minutos. 
  Sexta  28 de dezembro de 2012 | 2h 03
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
China opens world’s longest high-speed rail line - International Herald Tribune

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Se o Brasil tivesse um governo que desse importância ao trasnsporte de passageiros ferroviários! seria muito bom....
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