Antonio Pastori |
Do
ponto de vista dos amantes do transporte ferroviário de passageiros e
preservacionismo, temos pouco a comemorar nesse dia tão importante para
uma classe cuja atividade se iniciou há 161 anos atrás.
Não há como deixar de lamentar o abandono, a destruição de
históricas estações ferroviárias e a erradicação de trechos pioneiros
por força da nefasta Resolução 4.131/2013 da ANTT. Tem também a
destruição homeopática de material rodante que vai sendo corroído pela
ferrugem.
A preservação ferroviária de antigas estações, rotundas, oficinas,
trechos, sítios, locomotivas, carros, vagões, objetos, ferramentas,
documentos, objetos não devem ser vistas somente como objeto de
saudosismo ou exemplar de colecionadores. Trata-se de um presente do
passado para se pensar num futuro melhor, menos poluído e mais
civilizado em termos de transporte, passageiros e cargas.
Lamentamos, também, o fato de que esse modal – e os projetos do PIL
Ferrovias - estejam muito mais voltados para o aspecto mercantilista do
transporte de cargas jogando para o desvio do esquecimento o transporte
de passageiros em médias e longas distâncias, com raras exceções.
Estamos cada vez mais distantes do padrão europeu de mobilidade sobre
trilhos. Devemos nos contentar com os (poucos) projetos urbanos sobre
trilhos de metrôs, VLT’s e outros.
Fato incontestável é que o modelo de mobilidade centrado nas
rodovias deixa ao abandono milhões de motoristas e passageiros que
sofrem nos constantes congestionamentos em áreas urbanas ou em se
ariscam em estradas, se não esburacadas, em disputa feroz com enormes
caminhões e motoristas apressados. Felizes os que conseguem se livrar de
inevitáveis congestionamentos ou dos acidentes, que ceifam milhares de
vidas todos os dias e põe o Brasil na lista dos recordistas nessa
barbárie sobre rodas.
Vale a pena registrar que a locomotiva a vapor Baroneza, primeira a
trafegar em solo brasileiro, fez a viagem inaugural na estonteante
velocidade média de 37km/h, que é o dobro da velocidade média dos
veículos que hoje trafegam nos nossos centros urbanos. Nada contra o
automóvel e toda sua moderna tecnologia embarcada mas, pergunto:
evoluímos?
Para citar um único exemplo quanto à vantagem do transporte
ferroviário sobre o rodoviário, a E. F. príncipe do Grão-Pará
(1883-1964), que ligava Petrópolis ao Rio de Janeiro, registrou somente
um único acidente com três vítimas fatais no trecho a cremalheira de 6
km no plano inclinado de 18% da Serra da Estrela durante os 81 anos
ininterruptos de operação. Com o fim da ligação ferroviária, o acesso à
Petrópolis passou a ser exclusivamente pela Estrada Rio Petrópolis
(BR-040), inaugurada em 1926. O trecho de descida dessa rodovia acumula,
em quase cem anos de existência, dezena de milhares de acidentes e mais
alguns milhares de mortos. Esse fato merece uma profunda reflexão por
parte dos decisores, públicos e privados.
Para encerrar a discussão, anexamos uma foto atual e antiga do
universo ferroviário brasileiro. Contendo um significado explícito, um
recado do passado esquecido, uma denúncia quanto ao descaso no presente e
uma esperança de futuro melhor para esse modal que foi – e ainda é -
tão importante para o desenvolvimento do país.
Antonio Pastori
Pesquisador-ferroviarista, mestre em economia, administrador de
empresas e contador. Foi Conselheiro nas empresas FERRONORTE, FERROBAN e
NOVOESTE, representando o BNDES; é coordenador do GFPF-Grupo Fluminense
de Preservação Ferroviária; membro da AFL- Academia Ferroviária de
Letras; entre outros. Tendo dedicado sua carreira ao setor ferroviário.
Fonte: Revista Ferroviária
Publicada em:: 30/04/2015
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