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Title: Belo Horizonte não tem previsão para instalar rede elétrica subterrânea
Author: Lavras Além do Tempo
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Com apenas 5% dos 6,8 mil quilômetros da fiação elétrica aterrada, capital mineira não sabe quando se livrará do risco frequente de acident...
Com apenas 5% dos 6,8 mil quilômetros da fiação elétrica aterrada, capital mineira não sabe quando se livrará do risco frequente de acidentes e da poluição visual


Pedro Ferreira

Publicação: 24/04/2013 06:00 Atualização: 24/04/2013 06:37

Excesso de fios na Avenida Raja Gabáglia, esquina com Rua Gentios, que mais parece um esquema de gambiarras, é exemplo de como a capital dependerá desse sistema por muito tempo ainda


Parece gato, mas não é. Belo Horizonte está envolta em um emaranhado de fios e o problema só aumenta e está longe de um ponto final. A rede aérea tem 6.873 quilômetros (2.547 de alta-tensão e 4.326 de baixa tensão (entre os postes e as casas). Além disso, operadores de TV a cabo e de telefonia pagam taxas pelo uso dos postes e a fiação se alastra sem controle. De 1971 para cá, a Cemig aterrou apenas 366 quilômetros da sua rede elétrica na capital (5%), principalmente na Região Central, pegando um pouco das proximidades da rodoviária, área hospitalar, Praça Tiradentes, Praça da Liberdade, parte do Santo Agostinho e a Savassi. Se for nesse ritmo, a concesssionária de energia vai demorar 750 anos para deixar a cidade totalmente livre da poluição visual e mais segura para pedestres e consumidores. Este ano, cinco pessoas morreram em acidentes na rede elétrica.

A última rede subterrânea foi feita em 1998, segundo o engenheiro da Cemig Erivaldo Costa Couto. E não há previsão de novos investimentos, “nem a curto nem a médio prazo”, ressalta. A Cemig diz investir na substituição, modernização e automação das redes subterrâneas na capital e no interior e que estuda a possibilidade de conversão de redes aéreas convencionais para as subterrâneas, mas sem previsão de tempo. Um relatório deve ser concluído nos próximos dois anos para subsidiar o planejamento dessa expansão. “Há tecnologias sendo estudadas”, informou o engenheiro.

Para o presidente da ONG urbanística e ambientalista Instituto Cidades, André Tenuta, o problema é muito mais financeiro do que tecnológico. A Cemig tem hoje 450 mil quilômetros de rede de distribuição em Minas (360 mil rurais e 90 mil urbanos). No estado, são 700 quilômetros de cabos aterrados, o que corresponde a 0,8% das redes urbanas. Os recursos necessários à conversão das redes aéreas urbanas convencionais para as subterrâneas são estimados entre R$ 40 bilhões e R$ 60 bilhões. 


Segundo o engenheiro Erivaldo Costa, há tecnologia que facilita a instalação da rede subterrânea, mas é cara. Ele conta que há como perfurar o solo sem quebrar as calçadas, mas os custos são bem mais elevados. No mês passado, a prefeitura começou a colocar em prática o projeto Amar BH, que tem entre outros objetivos a despoluição visual e reforma e manutenção dos passeios. André Tenura defende que calçadas já sejam preparadas com tubulação para receber os cabos de energia futuramente.

Erivaldo Costa aponta outra dificuldade para instalação da rede elétrica subterrânea. “Interferências em redes da Copasa, de água pluvial, de esgoto e cabos que já passam no subsolo. Tem muita gente usando o subsolo e não há uma proposta de ordenamento no Brasil. A gente está trabalhando num projeto nesse sentido, mas não existe normalização sobre essa questão”, reclama o engenheiro. A prioridade para instalação da subterrânea, segundo ele, são as áreas mais adensadas, como o Centro de BH e a Savassi. “Na região hospitalar, é para garantir maior segurança e melhor atendimento aos hospitais”, disse Erivaldo. 

A profundidade padrão de instalação dos cabos isolados da rede subterrânea é de 20 centímetros nas calçadas e 70 centímetros nas vias de trânsito. No caso de linhas de alta- tensão, essta profundidade é de cerca de 160 centímetros. 

A Praça Sete, no Centro, foi a primeira região da cidade a ter sua fiação elétrica aterrada, em 1971. Na década de 1980, o sistema foi expandido para outras regiões do Centro. Na mesma época, cidades históricas de Minas começaram a substituir a rede aérea pela subterrânea, como Ouro Preto, Diamantina, Mariana, Tiradentes e Serro, mas são pequenos trechos e o trabalho não foi adiante. Em Ouro Preto, só a Praça Tiradentes ficou livre da poluição visual. 

Na década de 1980, Juiz de Fora, Uberlândia, Uberaba, Itajubá e Montes Claros tiveram parte da fiação aterrada. Na década de 1990, foram construídas redes subterrâneas em Varginha, Nova Lima e Santa Luzia. Em Santa Luzia, apenas a Rua Direita foi contemplada. 

A rede subterrânea é mais segura e confiável, avalia Erivaldo. “Está livre de colisões de veículos em postes, de objetos jogados na rede e das tempestades, dos galhos e árvores que caem sobre a rede aérea. Grande parte dos problemas que a gente enfrenta com a rede área é devida às intempéries, deixando consumidores sem energia”, informa o engenheiro Erivaldo.

O CUSTO DAS PODAS

Andando pela Savassi, André Tenura observa que as árvores crescem sem o obstáculo dos fios. “As interferências com a fiação custam caro. As árvores têm que ser podadas para evitar danos à rede elétrica, acidentes e interrupções de energia”, avalia o presidente do Instituto Cidades.

Para evitar esse tipo de problema, a Cemig gasta, em média, cerca de R$ 25 milhões em podas em todo o estado. Cada uma custa R$ 48. Atualmente, BH tem cerca de 350 mil árvores em áreas públicas, segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, e cada regional é responsável pela poda. Até 18 de março deste ano, a Regional Centro-Sul podou 941 árvores e o valor de cada serviço fica entre R$ 4,99 e R$ 177, 11, dependendo do tamanho. Apenas o BH Resolve recebeu 5.565 pedidos da população, de 1º de janeiro a 11 de março.

“A estética da cidade melhora sem a fiação aérea. A rede subterrânea está longe de ser um item supérfluo. É determinante para a qualidade de vida”, dize Tenuta. “Se você pega um lugar que é feio, certamente ele atrai coisa ruim. Lugar bonito atrai coisa bonita. A nossa proposta é melhorar a estética de BH para atrair outro padrão de relações e de possibilidades para a comunidade”, reforça Tenuta. Na Europa, segundo ele, em três anos, a partir de 2000, a Alemanha passou de 4,3% de sua rede aterrada para 75%. No mesmo período, o Reino Unido pulou de 1,4% para 81%. São Paulo tem hoje 7% da fiação subterrânea.

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