A falta de ampla visão logística no momento de executar grandes obras que poderiam proporcionar maior competitividade ao Brasil no comércio internacional marca historicamente o país. Nas últimas semanas, um grande exemplo disso vem causando muitos transtornos a transportadores e à população de Barcarena, no Pará. O início das operações do Terfron (Terminais Portuários Fronteira Norte), administrado pela empresa Bunge, abriu “uma nova porteira para a logística do agronegócio do Brasil”, mas não conta com infraestrutura adequada para a chegada das cargas ao Município, que também abriga o Porto de Vila do Conde, administrado pela Companhia Docas do Pará (CDP).
Conforme artigo publicado pelo colunista Frederico Bussinger no Portogente, as ruas e estradas que cruzam o Município estão dia e noite inundadas de carretas aguardando poder descarregar. Os problemas ultrapassam a questão dos custos logísticos. Os caminhoneiros ficam na Cidade sem condições adequadas para se alimentar, ir ao banheiro ou dormir e já há um grande aumento de movimentação no "mercado" da prostituição.
Em contato telefônico com o Portogente, o secretário de Planejamento de Barcarena, Alberto Pereira Góes, destacou que a situação é fruto de um descompasso entre o que foi planejado e o que foi executado. "No projeto, o Terminal deveria operar com o transbordo de carga na relação três para um, sendo três [unidades de carga] sendo movimentadas pelo modal aquaviário e uma pelo modal hidroviário".
No entanto, o secretário calcula que a relação está invertida, com mais de 75% das cargas chegando ao Terminal pela rodovias que dão acesso à Cidade, como a PA-483, conhecida como Alça Viária do Pará. Dessa forma, o fluxo de caminhões é tão intenso que as vias urbanas de Barcarena não comportam o tráfego, fazendo carretas serem estacionadas em locais improvisados, como terrenos recém-desmatados e campos amadores de futebol.
Alberto Pereira afirmou que as autoridades do Município, incluindo o prefeito Antônio Carlos Vilaça, irão se reunir nesta terça-feira (03) com autoridades do governo do Estado do Pará e com executivos da Bunge para uma visita ao Terminal e consequente análise desse atual panorama. "O ponto de chegada dos caminhões necessita ter uma infraestrutura remota, fora do centro urbano, com local adequado para os veículos aguardarem até acessar Barcarena para desembarcar as cargas", observou o secretário de Planejamento.
O modal aquaviário, como analisa Frederico Bussinger, só poderá ser explorado em sua plenitude a partir da obtenção do licenciamento de terminal em Miritituba-Itaituba, na outra ponta do estado. Todavia, até lá, Barcarena precisará de soluções imediatas para reduzir os transtornos estruturais, sociais e ambientais que a Cidade vem enfrentando.
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