A turismóloga Viviane Minati Panzeri, 38, diz acreditar que as ferrovias
não deveriam ser tema para a história. Elas poderiam incrementar também
o turismo de São Simão.
Em seu doutorado pela Universidade de Campinas, ela faz um inventário do
município e aponta como principal atrativo as belezas naturais da
cidade que poderiam ser apreciadas em passeios de trens.
No passado, São Simão teve a extensão territorial de 18 municípios,
incluindo Ribeirão. Para Viviane, os avanços trazidos pelas estradas de
ferro criaram casarões de estilos antigos. "É o que a faz ser bonita."
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE RIBEIRÃO PRETO
Bento Quirino é o mais antigo bairro de São Simão, no estado de São Paulo. Ele foi construído pelo doutor Jorge Cezimbra Fairbanks para ser a sede de sua empresa ferroviária cujo nome era Estrada de Ferro São Paulo Minas.
Muitos moradores da cidade de São Simão acham que o bairro nasceu por
causa do cemitério que ali foi erigido para abrigar as vítimas das 3
epidemias de febre amarela, o que é um engano. O cemitério
foi construído ali antes do bairro por determinação do político e
médico dr. João Cezimbra Fairbanks ( irmão de Jorge Fairbanks ). O
bairro de Bento Quirino só foi erigido quando o doutor Jorge Fairbanks decidiu acabar com o trajeto sinuoso da Estrada de Ferro São Simão (E.F.S.S.) que originalmente partia do centro da cidade (exatamente onde é hoje a Santa Casa de Misericória ).
HISTORICO DA LINHA: A linha-tronco da Mogiana teve o primeiro trecho
inaugurado em 1875, tendo chegado até o seu ponto final em 1886, na
altura da estação de Entroncamento, que somente foi aberta ali em 1900.
Inúmeras retificações foram feitas desde então, tornando o leito da
linha atual diferente do original em praticamente toda a sua extensão.
Em 1926, 1929, 1951, 1960, 1964, 1971, 1973 e 1979 foram feitas as
modificações mais significativas, que tiraram velhas estações da linha e
colocaram novas versões nos trechos retificados. A partir de 1971 a
linha passou a ser parte da Fepasa. No final de 1997, os trens de
passageiros deixaram de circular pela linha.
A ESTAÇÃO: Inaugurada em 1902, a estaçào de Bento Quirino servia no
início para cruzamento de trens entre Cravinhos e São Simão, atendendo
também os moradores da fazenda Restinga - a estação era para se chamar
Restinga - e para atender a Estrada de Ferro São Paulo Minas, O nome desta estação (Bento Quirino) foi uma homenagem ao presidente da Cia. Mogiana na época, Bento Quirino dos Santos.
Porém, em 1969, a SPM deixou de sair de Bento Quirino, sendo desativado
o trecho entre esta estação e Ipaúna, e a própria estação, com isto,
foi fechada. Funcionou ainda por poucos anos como escritório da São Paulo-Minas,
até sua extinção em 1971, mesmo ano em que a estação ficou fora da
linha, com a inuguração, em 25 de fevereiro, da variante Tambaú-Bento
Quirino. Parte da vila foi destruída em 1972, em atitude até hoje
inexplicada, aparentemente por funcionários da Fepasa.
Dezoito anos
depois, em 1986, o prédio da estação de Bento Quirino estava fechado, em
estado razoável de conservação, e já fora dos trilhos, devido à
retificação de 1971. Uma das casas da vila ainda abrigava o arquivo da EFSPM,
mas a casa estava fechada e trancada. Hoje o prédio transformou-se em
estação rodoviária e sede de igreja, (Fontes: Edilson Palmieri e
relatórios da Mogiana e da São Paulo-Minas) O livro "O Drama das
Estradas de Ferro no Brasil", de Hugo de Castro, conta o que foi a vila
ferroviária de Bento Quirino: "Alargou-se a sua bitola de 60 centímetros
para um metro; seu leito começou a ser empedrado; mas a adaptação do
material rodante e de tração para a nova bitola tornou-se um sério
problema. Foi nesse período de vida da estrada (anos 1920) que Bento
Quirino, uma simples estação da Companhia Mogiana, começou a crescer;
começou a crescer materialmente e a nascer como célula social modelo. E
em virtude do espírito de honestidade, de solidariedade mútua e de
trabalho constante de sua gente, chegou a figurar nas estatísticas do
Conselho Nacional de Geografia, na década de cinquenta, como o núcleo
populacional de maior conforto médio no Brasil.
Materialmente foi
provida de: Uma sede para a administração da estrada; uma ótima casa
para o diretor; Um grupo de cinquenta casas para funcionários, de entre
as quais cinco muito grandes, com amplos jardins e quintais, para os
chefes de departamento; Uma oficina mecânica muito bem aparelhada; Um
depósito de vagões; Uma rotunda com girador; Uma escola de formação de
oficinas; Um poço semi-artesiano, de 109 metros de profundidade, de base
diabásica, jorrando em quantidade água puríssima, distribuída à
população através de rede da própria estrada; Um grupo escolar amplo e
moderno; Um gabinete dentário; Uma pequena cadeia; Um vasto armazém de
abastecimento que fornecia, a prazo, para os funcionários, desde o
fósforo até a geladeira; Um clube recreativo e de esportes que causava
surpresa, espanto e admiração a quem o visitava pela primeira vez e nem
acreditava no que estava vendo. Esse clube, a Associação Esportiva
Quirinense, em cujo jardim frontal se exibe, vaidosa e sedutora, uma das
primeiras locomotivas que vieram de Filadélfia para a estrada, está
instalado numa área de dois alqueires aproximadamente, e contém uma
grande sede moderna, com salão de dança, cinema e bar; tem um campo de
futebol oficial cercado de tela e muro, com arquibancadas de concreto
armado e vestiário; um campo de bocha duplo, campo de basquete, grande
área coberta com cozinha e barracas de telha, para jogos e leilão de
prendas nas quermesses.
As quermesses de Bento Quirino eram famosas; a
população inteira se esforçava, gratuitamente, para dar-lhe um brilho
incomum; para tomar parte nelas chegava gente de toda a redondeza, até
de São Paulo; às vezes duravam três dias seguidos e era uma delícia
passar os fins de semana assistindo seus ricos leilões, deglutindo
frangos e leitão assado, mastigando, com volúpia, os célebres pastéis de
D. Cezira, bebericando uma suave cerveja gelada, ouvindo música, tudo
isso unido ao picante prazer de comentar a vida alheia, ao ingênuo sabor
do "Correio Elegante" e a doces idílios precursores de suaves noivados e
felizes compromissos de casamento.
A finalidade inicial daquelas
quermesses era a construção da graciosa igreja local dedicada a Santo
Antônio, erguida em sombreada praça à custa do povo que, além das
quermesses ainda se reunia constantemente em gloriosos mutirões de
trabalho para que a linda igrejinha ficasse logo pronta e o bimbalhar
dos sinos enchesse de místicas vibrações a comunidade. Todas as crianças
e toda a juventude estudavam; um ônibus construído nas oficinas hoje
arrasadas da estrada, levava, cedo, para São Simão, os alunos do Ginásio
e da Escola Normal; e, à noite, levava e trazia os discentes da Escola
de Comércio. Mas... delenda Bento Quirino!(...)".
Em maio de 2009, a
estação já foi reformada e agora abriga um museu ferroviário. O museu
funciona no interior do prédio, enquanto a plataforma é utilizada de um
lado como parada de ônibus e do outro lado (a estação tinha duas
plataformas, uma de cada lado) está agora em exposição uma pequena
locomotiva diesel em bitola de 60 cm.
Todos amam São Simão!
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