Anderson Nascimento Anderson Nascimento Author
Title: O desafio de reduzir custos, por José Augusto de Castro
Author: Anderson Nascimento
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  O Brasil conseguiu a proeza de ter um custo tão elevado quanto o de países desenvolvidos, mas a qualidade dos serviços só pode ser co...
 
O Brasil conseguiu a proeza de ter um custo tão elevado quanto o de países desenvolvidos, mas a qualidade dos serviços só pode ser comparada aos das nações mais atrasadas. Os entraves ao comércio exterior têm nome e endereço: sistema tributário complexo e obsoleto, carga tributária elevada, burocracia excessiva e infraestrutura - portos, rodovias, ferrovias, hidrovias e aeroportos - deficiente, insuficiente e sem integração. Isso para não falar de encargos trabalhistas e previdenciários muito superiores aos dos nossos concorrentes. O Brasil tem pressa em mudar, em deixar de ser um país caro para voltar à sua vocação de um grande exportador.

Esses custos estão muito elevados, inibindo a competitividade dos produtos brasileiros no exterior, sobretudo a de manufaturados. Basta lembrar que desde 2008 não houve crescimento, em termos de valor, das exportações de manufaturados. A participação nas exportações baixou de 59,1% em 2000 para 34,5% neste ano. É menor do que a verificada em 1978, quando ficou em 40,2%.

Nosso enfoque em manufaturados não significa que sejamos contra a exportação de commodities. Pelo contrário. Somos a favor das commodities, mas também a favor de aumentar a exportação de manufaturados, que é mais estável, adiciona maior valor agregado e gera mais empregos. E necessitamos criar empregos formais e qualificados, que serão capazes de movimentar a economia. Além disso, as cotações recordes atingidas pelas commodities não são eternas, e precisamos estar preparados para eventual queda nos preços, o que já se observa no caso do minério de ferro, por exemplo.

Quando a taxa de câmbio se torna fator de competitividade ou rentabilidade, alguma coisa está fora do lugar

Podemos dizer que o Brasil não é um país caro; porém, está caro produzir no Brasil. Enquanto exportar, principalmente manufaturados, está difícil, importar está muito fácil e barato. O número de empresas exportadoras vem caindo, e o de importadoras aumenta a passos largos. Em 2007, as empresas exportadoras somavam 20.889, e as importadoras, 28.911. Em 2012, o número de exportadoras caiu para 18.809 (menos 10%) e o de importadoras disparou para 44.069 (mais 52%). Ou seja, hoje as importadoras são mais que o dobro das exportadoras.

O Brasil tornou-se o paraíso da importação. Não chegou ainda à folclórica importação de ioiô do governo Dutra (1946-1951), quando houve uma queima expressiva de reservas internacionais. O que se observa é que a participação de produtos importados na pauta brasileira de consumo aumenta com velocidade. Esses gastos, muitas vezes supérfluos, não têm impacto na produção. Isso significa que a parcela de consumo que está sendo aumentada é suprida por produtos importados, que não criam empregos no Brasil.

E isso ocorre independentemente da taxa de câmbio e das tarifas aduaneiras. Mexer na taxa de câmbio, desvalorizando o real, não é a solução. A taxa de câmbio deve ser apenas fator de conversão de moeda estrangeira. Quando se transforma em fator de competitividade ou rentabilidade, alguma coisa está fora do lugar. A taxa cambial deve ser neutra, compatível, simultaneamente, com exportação, importação e inflação, sem influenciar exportação e importação, sem elevar o custo de produção com a importação de insumos.

Sem a taxa cambial como solução, a alternativa é reduzir custos internos. Isso eleva a competitividade do produto nacional, aumenta as exportações e reduz as importações.

Os custos elevados afetam empresas de todos os portes, mas as pequenas e médias sofrem muito mais, pois carecem de boa estrutura, de pessoal treinado e têm um custo de produção normalmente maior que o das grandes companhias, ficando sem condições de participar do mercado externo. Uma solução seria a reunião de pequenas companhias em consórcios de exportação, como é predominante na Itália, por exemplo. Mas como não existe essa figura jurídica na legislação brasileira, essa solução não pode ser adotada.

Em resumo, eis os entraves internos ao comércio exterior: 1- sistema tributário obsoleto e complexo, que trabalha contra a industrialização; 2- carga tributária elevada, composta por tributos, contribuições e taxas; 3- legislação trabalhista ultrapassada que eleva o custo de pessoal e desestimula a criação de novos postos de trabalho; 4- infraestrutura insuficiente, deficiente e onerosa, resultando em alto custo logístico e na perda de competitividade do produto brasileiro; 5- elevado custo financeiro, resultante de altas taxas de juros, onerando os custos de toda a cadeia de produção; e 6 - burocracia excessiva, com 17 órgãos governamentais atuando no comércio exterior, gerando custos ociosos para as empresas.

Esses são apenas alguns dos entraves que necessitam de uma efetiva atuação do Governo para reduzir os custos de produção no Brasil e elevar a competitividade dos nossos produtos, sobretudo de manufaturados, no comércio internacional.

Como uma reflexão sobre os problemas gerados pelos entraves internos sobre o comércio exterior brasileiro, mais especificamente sobre as exportações, cabe citar aqui dados comparativos entre Brasil e Coreia do Sul, de 2013, que ilustram a urgente necessidade de eliminação do famoso "custo Brasil".

A área do Brasil é 85 vezes maior que a da Coreia do Sul; a população é quatro vezes maior, o valor do PIB é o dobro e o PIB industrial é 1,5 vezes maior.

Todavia, quando se refere ao comércio exterior o cenário se inverte completamente, com o país asiático exportando o dobro do Brasil, e as vendas de manufaturados são quase seis vezes maior. As exportações totais da Coreia do Sul ocupam a 7ª posição no ranking mundial e as do Brasil a 22ª, enquanto nas vendas internacionais de manufaturados a Coreia do Sul está na 5ª posição e o Brasil na distante 28ª colocação.

Ou seja, no comércio exterior temos que fazer o dever de casa e reduzir custos, para depender mais de nossa competência e menos da sorte.

José Augusto de Castro é presidente da AEB - Associação de Comércio Exterior do Brasil

Fonte: Valor Econômico
Publicada em:: 08/09/2014

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