No dia 5 de março de 1903, a Companhia Ferroviária da Anatólia recebeu concessão para construir uma linha ferroviária entre Constantinopla e Bagdá, integrando leste do Império Otomano e atendendo a interesses militares.
Estação da linha para Bagdá |
O sultão Abdel Hamid 2º havia assumido o poder em 1876, época de declínio do Império Otomano, marcada por rebeliões nos Bálcãs, guerras com a Rússia e a Grécia, perdas territoriais no Norte da África e no Oriente Médio, sem contar o crescente interesse dos europeus pelos acontecimentos na região do Estreito de Bósforo. O genocídio de milhões de armênios e outras medidas desesperadas não ajudaram o sultão a salvar o império da desintegração.
Desde 1889, o lendário Expresso do Oriente levava turistas de Viena ou Paris a Constantinopla, numa viagem de três dias. A fim de facilitar as viagens dos peregrinos muçulmanos para Meca e Medina, o sultão permitiu a ampliação do trecho ferroviário até Bagdá e o Golfo Pérsico. Logicamente, a ligação também serviria aos interesses econômicos e militares, permitindo transportar armas e tropas para as distantes fronteiras do Império Otomano.
Sonho de ligar Berlim a Bagdá
Em 1888, o sultão consultou a Alemanha sobre seu interesse em financiar o projeto. O ceticismo sobre sua grandeza logo se desfez, pois em pouco tempo desenvolveu-se o sonho de uma ligação Berlim-Bagdá. A maior parte do projeto foi financiada pelo Deutsche Bank, e a execução ficou a cargo da construtora Philipp Holzmann, de Frankfurt.
Em quatro anos, foram construídos 600 quilômetros de trilhos, até Ancara. Em 1896 e outros mais de 400 quilômetros de trilhos depois, começaram os problemas diplomáticos. Também os russos e os britânicos reconheceram a importância do projeto e tentaram evitar a influência alemã na região. Irritado com as dificuldades, em 1898 Georg von Siemens, do Deutsche Bank, ofereceu o projeto aos russos, que o recusaram.
No dia 5 de março de 1903, a concessão foi passada a um novo consórcio, criado especialmente para esse fim: a Companhia Ferroviária da Anatólia. A empresa operava conforme o direito turco, mas o maior banco alemão continuou sendo seu principal proprietário. Nessa época, já não se construiu com tanta rapidez. Os 600 quilômetros seguintes só ficaram prontos em 1914.
Reino Unido interfere
Ainda faltavam ser completados 650 quilômetros quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial. A Alemanha e a Turquia eram aliadas, e o Reino Unido aproveitou a oportunidade para transferir suas tropas para o Golfo Pérsico. Os britânicos se prevaleceram dos anseios dos árabes de se libertar do Império Otomano e, além de impedir o avanço da Alemanha na região, asseguraram para si o acesso à riqueza da região: o petróleo.
Em 1917, as tropas britânicas chegaram até Bagdá e, um ano mais tarde, receberam o mandato sobre a Mesopotâmia. Turcos e alemães haviam perdido a guerra e já não se falava mais de uma ferrovia até o Golfo.
Em 1932, o Iraque conquistou a soberania em nível internacional, apesar de continuar sob influência britânica. Depois da independência em 1936, o governo iraquiano resolveu terminar a construção da ferrovia. O primeiro trem chegou a Bagdá em 15 de julho de 1940.
Fonte: http://www.dw.de/1903-concess%C3%A3o-para-ferrovia-constantinopla-bagd%C3%A1/a-303242
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