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Title: Eles as enconstaram e nós demos adeus aos Toshibas
Author: CFVV
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Por Eric Mantuan, da redação Railbuss A ferrovia paulista virou mais uma página de sua história. No dia 31 de maio, a peça de resistênc...
Por Eric Mantuan, da redação Railbuss

A ferrovia paulista virou mais uma página de sua história. No dia 31 de maio, a peça de resistência da tração elétrica na Sorocabana deixou de circular. Últimos trens unidade-elétricos em bitola métrica do estado, ultimamente relegados ao trecho Itapevi-Amador Bueno, com passagem gratuita e velocidade restrita – 30 km/h – os TUEs Toshiba pouco se parecem com os trens de luxo que entraram na ativa em 1958. Saem de cena como verdadeiros samurais japoneses, após 52 anos de serviço ininterrupto.


Toshiba passando pela Lapa. Foram os únicos de bitola métrica no Brasil a ter toalete em seus carros reboques
Fabricados pelo consórcio Toshiba-Kawasaki, eram em vinte unidades, compostas por um carro-motor e dois reboques. Vieram para desafogar o sistema de subúrbios da Sorocabana, que, apesar do espetacular crescimento industrial e populacional da Grande São Paulo, contava em 1958 com apenas quatro TUEs, fabricados pela Pullman Standard Co. Com acabamento interno refinado, luxuoso para a época, foram designados até mesmo para rotas de longo percurso como Sorocaba e Botucatu. Dispunham até de bancos de couro.


Trem Unidade Pullman Standard, importado de Nova Iorque
Essas unidades, no entanto, não foram suficientes para evitar um colapso no transporte metropolitano da Sorocabana, mesmo operando formações de até quatro unidades – doze carros – entre Carapicuíba e Júlio Prestes. No começo dos anos 70, às vésperas da formação da Fepasa, a superlotação era comum, com pessoas penduradas nas portas, janelas e até mesmo em cima dos trens. O alívio só veio em 1975, com a chegada dos trens franceses do consórcio MTE-Francorail-Cobrasma. A partir daí, paulatinamente, os trens japoneses começaram a ser jogados para escanteio.


Superlotação causava 1 queda por dia na década de 70

Colapso no sistema

...foi resolvido com a chegada dos trens Francorail / Cobrasma


Unidade desativada em Iperó. Sucateado em meados de 2003 pela Ferroban
Transferidos para os trechos onde foi mantida a bitola métrica, entre Mairinque e Itapevi e Jurubatuba a Varginha, além de uma experiência com tração diesel no litoral, batizada de Trem Inter-Metropolitano, os Toshibas viraram os anos 80 com nova pintura, vermelha e branca, adquirida em reformas feitas na Mafersa, nas oficinas da Fepasa de Sorocaba e, principalmente, de Rio Claro – o que lhe valeu um dos apelidos pelo qual é conhecido, TUE "Rio Claro". A Fepasa cogitou recuperar todas as unidades, mas agora o panorama era o inverso: a demanda de passageiros não justificava tantos trens em operação. Isso, justiça seja feita, se devia mais à má qualidade do serviço prestado, com excessivas baldeações e poucos horários, do que à qualidade do equipamento. Conclusão: pouco a pouco, os trens foram sendo sucateados.


Composição 'Rio Claro' em Mairinque


Toshiba na estação Varginha, já com logomarca da CPTM


Unidade reformada na baixada santista, conhecidos por TIM
O fim dos Rio Claro começou a ser selado em 1996, já pela CPTM, com o fim da linha Mairinque-Amador Bueno. Pouco depois foram cessadas as operações nos trechos Santos-Samaritá e Jurubatuba-Varginha – esta retomada recentemente, com trens de bitola larga. As unidades abandonadas ainda pela Fepasa em Iperó foram cortadas como sucata pela Ferroban, assim como as que serviam ao TIM do litoral, maçaricadas pela CPTM em Presidente Altino. No início dos anos 2000 restavam ainda sete TUEs Toshiba em operação na estatal paulista, que, embora o trecho Itapevi-Amador já estivesse repleto de problemas de infra-estrutura, ainda pareciam ter uma sobrevida, como a do projeto Expresso Arte.


Último dia de operação na estação Amador Bueno
Os Toshibas da CPTM eram, desde 2008, os resquícios finais da tração elétrica da Sorocabana, pois nesse ano a ALL Logística encostou suas três últimas locomotivas elétricas ainda em operação entre Presidente Altino e Amador Bueno. Apesar de importante para a história do transporte metropolitano da capital, a operação das derradeiras unidades japonesas era uma verdadeira bomba relógio, assim como o próprio serviço – que será reformulado pela CPTM até 2012 através de novas estações e da remodelação da via permanente. Essa reforma, por sinal, atrasou mais de 30 anos. Foi prevista já em 1974, no plano de reformulação dos subúrbios da Fepasa, mas a empresa, à época, resolveu recuperar apenas cosmeticamente o trecho além de Itapevi.

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Unidades desativadas poderão continuar prestando serviços em Salvador
O início das obras, em 31 de abril, selou o destino dos três últimos guerreiros japoneses. Ficam as lembranças, como as de um condutor, que após 24 anos de trabalho nos Toshiba operou o apagar das luzes das unidades. “Não há como negar, já estamos com saudades. Como trem metropolitano a carreira se encerra aqui, ele não acompanha os mais modernos em tecnologia”, explica. Outro condutor defende a preservação de pelo menos um exemplar como peça histórica na estatal paulista. “Poderia ser o trem turístico para Sorocaba”, pondera. Segundo pessoas ligadas à CPTM, no entanto, eles vão se juntar a seus quatro irmãos do trem metropolitano de Salvador, após uma grande reforma – a terceira da carreira, sem contar inúmeras pequenas modificações feitas por EFS e Fepasa. Caso isso se confirme, os trens que por meia década transportaram milhões de pessoas na Grande São Paulo passam das vias férreas para o mero imaginário de seus usuários.

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