06/04/2012 - Globo Repórter
O Brasil já teve a oitava maior ferrovia do mundo. Após a Segunda Guerra Mundial, na década de 1940, teve dificuldades na importação de material. Entre 1935 e 1950, as concessões foram vencendo, e o governo passou a controlar as companhias. Em 1957, nasceu a Rede Ferroviária Federal. Uniu 22 ferrovias do país, mas foi o último suspiro do trem.
O trem transportou nossas riquezas e encurtou distâncias nas viagens de passageiros, mas não conquistou a simpatia de nossos governantes. A partir da década de 1960, embarcou rumo à decadência. O presidente Washington Luís já dizia que governar é abrir estradas, e quando Juscelino Kubitschek assumiu em 1956, o Brasil começou a sair dos trilhos. Deixou de ser um país de primeira classe da ferrovia.
O mapa ferroviário de 1958 mostra quando nossas estradas de ferro atingiram a extensão máxima, cerca de 38 mil quilômetros - quase a distância de ida e volta até o Japão.
O mapa mais recente, o de 2007, revela uma ferrovia menor. Perdemos 10 mil quilômetros de linhas. Mas não se engane: daquelas que ficaram, 62% estão ociosas ou abandonadas, segundo a própria Agência Nacional de Transportes Terrestres. A ferrovia parou e deu passagem ao transporte rodoviário.
O país esqueceu o trem e incentivou a indústria automobilística. Queria chegar mais rápido ao progresso. Mas, hoje, nos grandes centros, a velocidade é bem menor que a das “marias-fumaça”.
Na contra-mão da história, um trem de passageiros ainda resiste. Na estação de Belo Horizonte, a dor de quem fica e a alegria de quem vai pela primeira vez. O trem de Minas ao Espírito Santo é uma novidade para a cabeleireira Regina.
“É um sonho que eu tenho há muito tempo e todo mundo fala”, conta.
Mas há mais de um século essa viagem é realizada todos os dias. São mais de 600 quilômetros passando por cidades como Itabira, João Monlevade, Ipatinga e Governador Valadares.
Cenários exclusivos da janela do trem.
A ferrovia por onde passam 40% do transporte de carga do Brasil atravessa uma área explorada pela maior mineradora do país.
A classe econômica não tem ar condicionado, mas está cheia de calor humano. Seu Silas, de 75 anos, já fez esse mesmo trecho no trem do passado.
“Andei na maria fumaça. Aquele fogo da maria fumaça queimava o chapéu, queimava o terno da pessoa. Agora está uma maravilha”, lembra.
Ele mora em Belo Horizonte, e, graças ao trem, pode visitar a filha em Governador Valadares “Eu gosto de viajar de trem, porque é calmo. Você viaja com gente igual a você mesmo. Aqui é todo mundo igual”, analisa.
Treze horas de viagem e a janela do trem é o divã de Regina. “Eu acho que você faz uma reflexão de você mesma. Você esquece de tudo, só vê natureza e vento, vento”, diz.
O trem partiu de Belo Horizonte às 7h da manhã e chega em Vila Velha, na Grande Vitória, às 20h.
O Globo Repórter vai agora fazer uma viagem pelo trem do futuro, a 300 quilômetros por hora, da Inglaterra para a França, a bordo do Euro Trem, a mais alta tecnologia da Europa.
Londres e Paris estão separadas por mais de 600 quilômetros e uma fronteira natural: o Canal da Mancha. Em 1994, foi construído um túnel submarino para fazer essa ligação de trem, com a mais moderna engenharia ferroviária. O conforto é impressionante. Tudo é acarpetado. A pontualidade é britânica. O bar divide a primeira classe e a segunda classe. Na segunda, as poltronas são um pouco menores, mas também são acolchoadas e confortáveis, bem melhores que os trens que estamos acostumados a ver no Brasil.
Quem imaginaria um trem a 60 metros de profundidade no Oceano Atlântico. E ainda conectado ao mundo. Em cada carro, uma nova nacionalidade.
A carioca Alessandra e o marido inglês vão passar o fim de semana em Paris. Se fosse de avião, ela pagaria praticamente o mesmo preço, mas o trem traz outras vantagens.
“Não tem as tremidas. E tem as paisagens”, lista Alessandra.
O Euro Trem tem 18 partidas diárias para a França. É um transporte seguro e rápido.
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