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Title: Transição política na China deve gerar investimentos
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13/09/2012 - Financial Times, de Pequim Desde a morte de Mao Tsé-tung em 1976, as transições de poder na China são acompanhadas, como um re...
13/09/2012 - Financial Times, de Pequim

Desde a morte de Mao Tsé-tung em 1976, as transições de poder na China são acompanhadas, como um relógio, por grandes avanços nos gastos do governo.

Apesar da preocupação com a atual desaceleração do país, há sinais de que esta onda de investimentos alimentada pela situação política vai se confirmar no próximo mês, quando uma nova geração de líderes assumir o comando nas esferas central e provincial.

"A conexão entre economia e transição de governo é extremamente próxima na China, talvez ainda mais próxima do que nos países ocidentais", diz Cai Hongbin, reitor da faculdade de administração de empresas Guanghua, parte da Universidade de Pequim.

Governos municipais e estaduais já revelaram planos de gastos superiores a 10 trilhões de yuans (US$ 1,6 trilhão). A Comissão de Reforma e Desenvolvimento Nacional, agência de planejamento federal, também aprovou projetos de cerca de 1 trilhão de yuans em obras rodoviárias, ferroviárias e hidroviárias.

Os mais céticos destacam que será difícil tornar esses financiamentos disponíveis e que a economia não precisa tanto como no passado do tipo de crescimento que é baseado em investimentos.

Mesmo se os planos não se concretizarem, a série de anúncios coloca em evidência as profundas forças políticas em movimento na economia da China. "É como se o governo central estivesse organizando um torneio entre os governos locais com base em seus números do PIB. Quem puder mostrar o melhor crescimento do PIB vai ganhar uma promoção mais tarde. Então, o incentivo para investir definitivamente existe", afirmou Huang Haizhou, estrategista-chefe do China International Capital, um dos principais bancos de investimento do país.

Com a China desacelerando rumo a uma expansão anual de 7,5% em 2012, que seria o pior resultado em mais de 20 anos, o incentivo para que as autoridades promovam o crescimento é grande.

Os projetos de investimento anunciados recentemente vêm sendo descritos como iniciativas de "estímulo" para impulsionar a economia. A província de Guizhou, por exemplo, pretende investir 3 trilhões de yuans para expandir o turismo, enquanto a cidade de Chongqing planeja gastar 1,5 trilhão de yuans em sete setores estratégicos, entre os quais o de telecomunicações.

O rótulo de estímulo econômico, contudo, não é o mais adequado. O fator mais importante por trás dos anúncios de investimento não são os problemas econômicos imediatos, mas o contexto político mais amplo.

A China alterna suas principais líderes a cada dez anos e reposiciona outras importantes autoridades e líderes locais a cada cinco anos, mais ou menos na mesma época em que convoca o Congresso Nacional do Partido Comunista. A influência econômica desse ciclo político é visível na alta dos investimentos na época de praticamente todas as reuniões: isso aconteceu após 1977, 1982, 1987, 1992, 2002 e 2007.

O mundo externo concentra as atenções em saber quem assumirá o principal cargo de liderança do país. A expectativa é que Xi Jinping substitua Hu Jintao como presidente. O impacto nos investimentos, porém, também é alimentado, tanto quanto, pela série de novas autoridades locais.

"Quando os novos quadros assumem cargos locais, eles planejam seus mandatos e esperam alcançar grandes feitos. Quase sempre se trata de grandes projetos industriais ou de infraestrutura. Leva tempo para concluí-los, então, quanto mais cedo começam, maior a chance de que os consigam completar durante seus mandatos e que os resultados possam ser vistos", afirmou Cai.

O ciclo de liderança também ajuda a explicar a desaceleração econômica da China, com observadores dizendo que as autoridades parecem ter transferido a atenção dos problemas de crescimento para a política.

Em recente artigo, o economista Li Yinan, da Universidade de Estocolmo, sustenta que a desaceleração nos investimentos antes dos congressos do Partido Comunista é tão comum quanto as ondas de financiamento pós-congressos. A farra de investimentos acaba carregando a economia com inflação, o que força o governo federal a apertar sua política monetária por vários anos para acalmar a situação.

"A maioria [das medidas] do aperto acaba no ano do congresso ou pouco depois. É porque a intervenção acaba, que o investimento sobe depois", afirma.

Com a inflação em grande medida sob controle, o terreno está preparado para mais flexibilização monetária e gastos fiscais neste ano e no próximo. Arthur Kroeber, diretor-gerente da instituição de pesquisas Dragonomics, no entanto, diz que o impacto econômico do ciclo político pode ser mais fraco do que nas ocasiões passadas. Com os investimentos já representando 50% do PIB - algo sem precedentes em grandes economias - os líderes chineses sabem que precisarão domá-los ou correm o risco de enfrentar uma crise.

"Realmente acredito que desta vez é diferente, porque a China chegou perto demais dos limites do modelo de crescimento baseado em infraestrutura de capital intensivo", afirmou Kroeber. "Os incentivos [para as autoridades locais] ainda existem, mas o governo federal tem um incentivo muito, muito forte para acabar com isso."

Li não tem tanta certeza quanto a isso. "Os líderes locais começaram a anunciar planos de investimento ambiciosos, portanto, acho que essa história vai se repetir no próximo ano", disse. "Se as instituições não mudarem, o ciclo vai continuar se repetindo".

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