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Title: Pelos trilhos do tempo
Author: Anderson Nascimento
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Publicado: quarta-feira, 10 de dezembro de 2014 As viagens de trem deixaram saudade, por onde ele passava levava alegria, diversão e a...
Publicado: quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
As viagens de trem deixaram saudade, por onde ele passava levava alegria, diversão e animação, e suas saudosas estações são lembradas como local de encontro, reencontros, despedidas



Por Sebastião Borges | Clic Folha
Trem de ferro, Maria Fumaça, Misto, Expresso, como queiram chamar. Ver o trem passar, ouvir seu apito e o barulho das rodas de ferro nos trilhos é uma boa lembrança que sempre tenho. A história da nossa Estação Ferroviária em Passos é uma história contada de boca em boca, e foi assim que alinhei no pensamento o dia festivo de sua inauguração: bandeirinhas estendidas por toda a plataforma, discursos e aplausos, estrugir de centenas de foguetes, alvoroço das pessoas, muitos vivas, banda de música, autoridades ladeando o agente executivo (cargo equivalente a prefeito) Coronel João de Barros, com seu jeitão, alto, magro, nariz comprido, vermelho, bigode e cavanhaque, olhos vivos e pescoço estirado, andando de um lado pra outro, analisando todos os detalhes. Preocupado com o atraso da Mogiana, a todo momento tirava da algibeira o bonito relógio suíço entrelaçado por uma corrente de ouro. Plataforma cheia de gente, povão em volta da Estação, políticos com seus colarinhos engomados e com seus melhores ternos, acompanhados por suas senhoras muito bem trajadas com vestidos longos e apertados, sapatos de saltos, leque e sombrinhas coloridas. Um misto de emoção tomava conta daqueles que pela primeira vez iam ouvir o barulho das rodas dos vagões escorregarem lentamente sobre os trilhos da ferrovia e o apito rouco da Maria Fumaça! Ao contrário dos que preferiram ir até a Estação, muitos se aglomeraram em cima de barrancos, em pontos estratégicos para ver pela primeira vez a bichona passar.

E a Maria Fumaça apitou, apareceu numa fumaceira danada, soltando faísca por todos os lados, passando pelos pontilhões que cruzavam a cidade, parecendo um monstro bonito, puxando os vagões, se exibindo, adentrando bem devagar o pátio da Estação, se aproximando da plataforma, fazendo um grande barulho com a freiada sobre os trilhos, e entre um vagão e outro estava o guarda acenando para o povo, todo imponente, parecendo um general, exibindo sua farda branca e boné azul marinho.

Assim ela chegou! Soprando fumaça para todo lado, fogos pipocando nos ares, a banda tocando, políticos sorrindo, e o povão, numa alegria irradiante, saudando com palmas e vivas! O trem que por aqui passou se fez saudade, deixou marcas em cada um que teve o privilégio de fazer uma sacolejante e vagarosa, mas gostosa viagem, como eu fiz várias vezes a bordo da Maria Fumaça ou trem de ferro em minha infância e juventude. A viagem era demorada, mas as paisagens diante dos olhos compensavam a demora de se chegar ao destino marcado. E quando a noite chegava, seu farolzão ia rompendo o nevoeiro da madrugada, serpenteando entre lavouras, morros, matas, pontes sobre rios, passando por vilarejos que hoje viraram cidades, transportando pessoas em busca de uma vida melhor em outras regiões, e a cada cochilo, o sonho de um novo lugar e uma nova oportunidade. Os que viajavam nos vagões de primeira classe iam confortáveis, os bancos eram almofadados e tinha o bar restaurante. Já os que iam em segunda classe, os bancos eram de madeira, desconfortáveis, e sem o bar restaurante tinham que levar a matula e comer no próprio banco.

As viagens de trem deixaram saudade, por onde ele passava levava alegria, diversão e animação, e suas saudosas estações são lembradas como local de encontro, reencontros, despedidas, e onde se iniciava a maioria dos namoros! Diz a história que a linha de Passos seria prolongada até a cidade de Piunhi, no prosseguimento foram feitos vários cortes nos morros até a uma certa distância, mas os trilhos jamais foram colocados, ficando assim a nossa Estação como “fim de linha”.

Durante 56 anos o povo de Passos foi servido por uma estrada de ferro que foi inaugurada em 11 de dezembro de 1921, desativada em 1977, e a retirada dos trilhos começou em 14 de janeiro de 1986. E o tempo, faminto pelo progresso, chegou levando os trilhos, mas o trem continua na memória daqueles que esperavam o seu apito para despertar do sono e começar sua vida cotidiana, ou, uma nova vida.

É o tempo passando e a gente “Memoriando”!

E a Associação dos Escritores de Passos e Região realizará sua primeira reunião em sua nova sede, hoje, quarta – feira, dia 10 de dezembro, às 19h e 30 minutos, no Palácio da Cultura.

Fonte: Clic Folha

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