Anderson Nascimento Anderson Nascimento Author
Title: Projeto quer resgatar a memória do cotidiano do trem em cidades de MG
Author: Anderson Nascimento
Rating 5 of 5 Des:
Vagão em ruínas localizado durante levantamento em Barbacena (Foto: Programa Memória Trem / Divulgação) A linha férrea que corta munic...
Vagão em ruínas localizado durante levantamento em
Barbacena (Foto: Programa Memória Trem / Divulgação)
A linha férrea que corta municípios, faz parte de muitas vidas na Zona da Mata e do Campo das Vertentes. Atrás da preservação do patrimônio de histórias e objetos sobre o assunto, uma equipe formada por profissionais e estudantes de História, Arquitetura e Urbanismo, Turismo, Jornalismo, Artes e Design embarcou em uma viagem na região. Eles participam do programa “Memória ferroviária da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil na Zona da Mata de Minas Gerais: identificação, resgate e valorização do patrimônio cultural ferroviário material e imaterial nos caminhos mineiros da antiga Superintendência regional 3 da Rede Ferroviária Federal S.A (R.F.F.S.A.)”.
O “Memória Trem”, como é conhecido, está percorrendo desde março de 2013 os municípios de Barbacena e Antônio Carlos, no Campo das Vertentes e Santos Dumont, Ewbank da Câmara, Juiz de Fora e Matias Barbosa, na Zona da Mata. A busca é por vestígios, manifestações, relatos e lugares que ancorem a memória do sistema ferroviário, em grande parte desativado nas décadas de 60 e 70, e que impulsionou o desenvolvimento urbano, econômico e sociocultural do estado e no país.
O programa foi aprovado em 2012 pelo Programa de Extensão (PROEXT) do Ministério da Educação, para ser realizado em 2013 e 2014 pelo Laboratório de Patrimônios Culturais (LAPA) do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Segundo uma das coordenadoras gerais do "Memória Trem", Mônica Olender, a meta é apresentar os resultados até maio deste ano. “A gente esta vindo resgatar os objetos, os vestuários, as placas decorativas, bancos, mobiliário, e vários outros elementos que cercavam o saber fazer, o imaterial e as histórias que cercavam o cotidiano da ferrovia nos municípios”, explicou.
De acordo com a também professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Engenharia da UFJF, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) já realizou um inventário dos bens imóveis, que são as estações e as casas de chefes de estações. Por isso, a abordagem do “Memória Trem” quer dar vozes a outros personagens desta história. “A gente está entrevistando ex-maquinistas, as pessoas que trabalhavam com manutenção ou que usavam os trens como meio de transporte para resgatar o funcionamento”, disse.
Mônica Olender reforçou que a ligação afetiva amplia a importância do que transcorria nos trilhos e paralela a eles. “Encontramos depoimentos, como o de uma senhora que conheceu o futuro marido no trem, porque eles iam todos os dias no mesmo vagão. Isso de pegar o trem, de ter um lugar preferido no vagão, de ver a paisagem, de escutar o apito, esse tipo de memória é importante para conhecer o cotidiano de um município e nos ajudam a entender a importância da estrada de ferro e das composições ferroviárias nessa região”, comentou.
Resgate com ajuda da comunidade
O "Memória Trem" está realizando os trabalhos de campo e de aproximação com a comunidade, através das entrevistas, levantamentos e do evento "Vagão do Patrimônio", que é voltado para todos aqueles que gostam da ferrovia, mesmo que não tenham trabalhado diretamente na área.
Em fevereiro, foram duas edições do "Vagão do Patrimônio" em Santos Dumont e Barbacena. Foram realizados o minicurso “Memória e Patrimônio”, com a professora e arquiteta, Milena Andreola, e também a oficina “Trem de Afetos”, ministrada pelo artista plástico e maquinista Jorge Fonseca.
Utilizando pintura, colagem, bordado, entre outras técnicas, os participantes realizam viagem criativa baseada em histórias e vivências, pessoais e coletivas, a partir da forma como convivem com a ferrovia. “A gente tem que ver a importância desses elementos na rotina da pessoa. Quem nunca usou, acha um tédio ficar esperando o trem passar. Quem usou, vê de outra forma, tem outra relação”, destacou a professora Mônica Olender. Ela lembrou que mesmo a mudança de utilização da linha férrea, de meio de transporte de passageiros para transporte de cargas, ainda mantém uma ligação importante com as cidades. “Agora o trem passa só com minério e, assim mesmo, os moradores demonstram um respeito muito grande pelo contato que tiveram antes com o trem, sendo algo que significava para eles”, analisou.
 
Túnel na linha que passa pelo Bairro Cedofeita, em Matias Barbosa (Foto: Programa Memória Trem / Divulgação)

Os levantamentos em Matias Barbosa, Santos Dumont e Barbacena estão em fase de conclusão. As próximas etapas devem ser realizadas em Ewbank da Câmara, Antônio Carlos e Juiz de Fora. Em cada cidade visitada, foram realizadas entrevistas para a elaboração de fichas de inventário que caracterizem e contextualizem historicamente os bens culturais móveis e imateriais ligados à memória ferroviária. Ao final, serão elaborados cadernos com as informações de cada cidade, que serão entregues às administrações municipais para serem fonte de pesquisas tanto das comunidades quanto dos Conselhos Municipais de Patrimônio Cultural. E também serão elaboradas cartilhas personalizadas por cidade com os conceitos básicos sobre patrimônio cultural e que ajudem no esclarecimento e sensibilização dos leitores a respeito da presença do trem e da ferrovia. “Depois de conhecer qual patrimônio é esse que ainda não foi inventariado, vamos tentar promover um resgate de compreensão deste universo para as pessoas”, relatou Mônica Olender.
Dentro do programa “Memória Trem” também está sendo produzido um documentário, com entrevistas com pessoas que relatam fatos históricos sobre a presença da ferrovia nos municípios e sobre os ofícios ferroviários. “A gente tenta sempre abarcar o máximo possível de informações e de pontos de vista, para fazer uma reinserção não só da ferrovia como da arquitetura e do mobiliário. Se não conseguirmos compreender o significado que aquilo tem para as pessoas e de uma forma mais ampliada, não poderemos propor algo que considere os diferentes pontos de vista. E assim, uma parcela muito pequena da comunidade passa a se importar e a história é perdida”, analisou a coordenadora do projeto.
O prazo de realização do projeto termina em maio deste ano. “Até março, no máximo início de abril, pretendemos fechar o trabalho de campo. Depois disso, vamos ficar no escritório elencando e organizando as informações”, detalhou.
Enquanto isso, os interessados podem acompanhar a divulgação do andamento do trabalho nas páginas criadas em uma rede social e na internet. “A gente espera realizar uma festa conjunta com representantes de todos os municípios. Além da entrega das cartilhas, faremos a exposição dos trabalhos criados nas oficinas e a exibição do documentário. Assim, a gente promove a integração e a troca de experiência entre eles”, resumiu Mônica Olender.

Fonte: G1
Publicada em:: 16/02/2014

About Author

Advertisement

Postar um comentário

 
Top