Mais de 15 anos depois das privatizações dos serviços de metrô, trens e barcas e 17 anos após a criação da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado do Rio de Janeiro (Asep RJ) — extinta em junho de 2005 e substituída pela Agetransp —, a atual agência responsável por controlar os transportes públicos estaduais concedidos convocou a primeira reunião, na tarde desta terça-feira, para tratar sobre um plano de contingência integrado entre os diferentes meios de locomoção.
Do encontro, participaram representantes das secretarias estaduais da Casa Civil e dos Transportes, e das concessionárias SuperVia, Metrô Rio e CCR Barcas. O secretário municipal de Transportes do Rio, Carlos Roberto Osorio, também participou da reunião.
Mas o encontro, que durou cerca de 40 minutos, foi tão somente um ponto de partida. De concreto, segundo informou a Agetransp, foi solicitado às concessionárias a elaboração de um planejamento integrado, que deverá ser apresentado à agência em 30 dias. O objetivo, acrescenta a Agetransp por e-mail, “é minimizar ao máximo os transtornos causados aos usuários do transporte público em casos de interrupção de circulação”.
A elaboração de um plano integrado de ação vem a reboque do acidente com um trem da SuperVia, que, na última quarta-feira, descarrilou nas proximidades na estação São Cristóvão, afetando praticamente todos os ramais. Passageiros andaram por trilhos, sem saber como seguir viagem. E a decisão de que os bilhetes dos trens poderiam ser usados nos ônibus só foi anunciada após a confusão ser instaurada. Na ocasião, o conselheiro presidente da Agetransp, Cesar Mastrangelo, e técnicos da agência detectaram falhas no plano de contingência da SuperVia, na comunicação e no atendimento aos usuários. A Agetransp chegou a anunciar que iria multar a concessionária. Já as causas do incidente ainda estão sendo investigadas.
Nesta segunda-feira, foram as vias rodoviárias que viveram transtornos. No primeiro dia útil de fechamento de todo o Elevado da Perimetral, o trânsito deu um nó no Centro, a ponto de a prefeitura ter que adotar uma medida emergencial não prevista: abrir uma divisória na saída do Mergulhão da Praça Quinze, criando duas faixas de rolamento. Ou seja, qualquer problema ou intervenção viária gera um caos na circulação da Região Metropolitana, que é resultado, segundo especialistas, de um sistema de transporte público frágil, concentrado em ônibus, que não tem um planejamento adequado e nem coordenação.
‘Todos as concessionária têm de falar a mesma linguagem’
Professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Uerj, José de Oliveira, lembra que não existe um plano de contingência integrado dos transportes. Para ele, não basta privatizar e colocar empresas para operar os meios públicos de locomoção. Todas as concessionárias — de trens, barcas, metrô e ônibus municipais e intermunicipais —, diz ele, têm que falar a mesma linguagem:
— É preciso colocar todas as concessionárias em igual faixa de sintonia, para que o caos não se instale. É possível minimizar os problemas. Mas, certamente, eles são inevitáveis, já que estão sendo realizadas, ao mesmo tempo, muitas intervenções nos sistemas de transportes. Ao longo das três, quatro últimas décadas, as administrações estadual e municipal não fizeram investimentos em manutenção e ampliação dos sistemas de transportes. Agora, o tempo se tornou curto para tantas coisas que têm de ser feitas.
Guerra credita ainda boa parte das dificuldades de mobilidade, hoje, à prioridade dada, no passado, ao transporte rodoviário em detrimento do ferroviário:
— Essa é uma questão nacional e se estende ao transporte de cargas, além do de passageiros. As políticas públicas visaram atender mais aos interesses das montadoras do que aos da sociedade. A fabricação de automóveis, ônibus e caminhões foi incentivada.
O engenheiro Miguel Bahury, ex-secretário municipal de Transportes e ex-presidente do metrô, critica o tratamento que vem sendo dado ao transporte sobre trilhos e de barcas no estado. Ele questiona a forma como o processo de privatização dos transportes vem sendo acompanhado:
— As privatizações têm mais de 15 anos. Depois de tanto tempo, não era para trens, metrô e barcas estarem funcionando adequadamente? No meu ponto de vista, a fiscalização, a cargo da Agetransp (agência que regula os serviços estaduais de transportes concedidos), tem sido parcimoniosa. Já o governo tem sido tolerante. Hoje, o metrô do Rio transporta apenas 600 mil pessoas, em média, diariamente. Os trens, que no passado já levaram 1,2 milhão de passageiros por dia, atualmente transportam 500 mil. Só 12% das viagens em transportes públicos são feitas em metrô e trens. Os contratos de privatização têm de ser discutidos publicamente.
Bahury compara a rede de metrô do Rio com à de outras cidades, para mostrar as disparidades. Com a primeira estação inaugurada em 1979, o metrô carioca tem 35,6 quilômetros em operação (a Linha 4, ainda em construção, não está contabilizada) e 34 estações. O de Seul, por exemplo, que começou a funcionar em 1974, tem 286 quilômetros e 266 estações. Também de 1974, o sistema de São Paulo tem 70 quilômetros e 62 estações.
— Como ter um plano de contingência com uma oferta de trens e metrô tão pequena? Não foi dada prioridade ao transporte de massa. Os ônibus deveriam ser transporte complementar.
Mais 15% de tráfego após o carnaval
Já o professor José Eugenio Leal, do Departamento de Engenharia de Transportes da PUC, defende a criação de uma agência metropolitana de transportes, para interligar concessionárias, governo e prefeituras, permitindo que conversem e se antecipem a eventuais problemas. Tão importante, de acordo com o engenheiro, é o planejamento preceder qualquer intervenção viária.
— Estado e município têm fôlego para investir. Mas não têm pessoal para gerenciar os impactos. Os órgãos públicos precisam de gente para planejar e informar melhor as pessoas. As mudanças de trânsito, por causa do fechamento da Perimetral, que foram muitas, tinham que ser informadas com mais antecedência e mais detalhadamente. Essas alterações deveriam também ter chegado ao sistema de GPS. Hoje (ontem) havia muita gente perdida.
E dias piores virão, alerta o professor Paulo Cezar Martins Ribeiro, da Coppe/UFRJ:
— Estamos no auge das férias. No dia 10 de março, depois do carnaval, o aumento do tráfego deve ser de 15%. Aí, é que as pessoas vão sentir, de fato, as consequências do fechamento da Perimetral.
Para Paulo Cezar, não esperar que o túnel da Avenida Binário do Porto ficasse pronto (previsto para o primeiro semestre deste ano), antes de fechar totalmente o elevado, foi um erro. O professor da Coppe criticou ainda a falta de planejamento entre os meios os meios de transportes.
Fonte: O Globo
Publicada em:: 28/01/2014
Do encontro, participaram representantes das secretarias estaduais da Casa Civil e dos Transportes, e das concessionárias SuperVia, Metrô Rio e CCR Barcas. O secretário municipal de Transportes do Rio, Carlos Roberto Osorio, também participou da reunião.
Mas o encontro, que durou cerca de 40 minutos, foi tão somente um ponto de partida. De concreto, segundo informou a Agetransp, foi solicitado às concessionárias a elaboração de um planejamento integrado, que deverá ser apresentado à agência em 30 dias. O objetivo, acrescenta a Agetransp por e-mail, “é minimizar ao máximo os transtornos causados aos usuários do transporte público em casos de interrupção de circulação”.
A elaboração de um plano integrado de ação vem a reboque do acidente com um trem da SuperVia, que, na última quarta-feira, descarrilou nas proximidades na estação São Cristóvão, afetando praticamente todos os ramais. Passageiros andaram por trilhos, sem saber como seguir viagem. E a decisão de que os bilhetes dos trens poderiam ser usados nos ônibus só foi anunciada após a confusão ser instaurada. Na ocasião, o conselheiro presidente da Agetransp, Cesar Mastrangelo, e técnicos da agência detectaram falhas no plano de contingência da SuperVia, na comunicação e no atendimento aos usuários. A Agetransp chegou a anunciar que iria multar a concessionária. Já as causas do incidente ainda estão sendo investigadas.
Nesta segunda-feira, foram as vias rodoviárias que viveram transtornos. No primeiro dia útil de fechamento de todo o Elevado da Perimetral, o trânsito deu um nó no Centro, a ponto de a prefeitura ter que adotar uma medida emergencial não prevista: abrir uma divisória na saída do Mergulhão da Praça Quinze, criando duas faixas de rolamento. Ou seja, qualquer problema ou intervenção viária gera um caos na circulação da Região Metropolitana, que é resultado, segundo especialistas, de um sistema de transporte público frágil, concentrado em ônibus, que não tem um planejamento adequado e nem coordenação.
‘Todos as concessionária têm de falar a mesma linguagem’
Professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Uerj, José de Oliveira, lembra que não existe um plano de contingência integrado dos transportes. Para ele, não basta privatizar e colocar empresas para operar os meios públicos de locomoção. Todas as concessionárias — de trens, barcas, metrô e ônibus municipais e intermunicipais —, diz ele, têm que falar a mesma linguagem:
— É preciso colocar todas as concessionárias em igual faixa de sintonia, para que o caos não se instale. É possível minimizar os problemas. Mas, certamente, eles são inevitáveis, já que estão sendo realizadas, ao mesmo tempo, muitas intervenções nos sistemas de transportes. Ao longo das três, quatro últimas décadas, as administrações estadual e municipal não fizeram investimentos em manutenção e ampliação dos sistemas de transportes. Agora, o tempo se tornou curto para tantas coisas que têm de ser feitas.
Guerra credita ainda boa parte das dificuldades de mobilidade, hoje, à prioridade dada, no passado, ao transporte rodoviário em detrimento do ferroviário:
— Essa é uma questão nacional e se estende ao transporte de cargas, além do de passageiros. As políticas públicas visaram atender mais aos interesses das montadoras do que aos da sociedade. A fabricação de automóveis, ônibus e caminhões foi incentivada.
O engenheiro Miguel Bahury, ex-secretário municipal de Transportes e ex-presidente do metrô, critica o tratamento que vem sendo dado ao transporte sobre trilhos e de barcas no estado. Ele questiona a forma como o processo de privatização dos transportes vem sendo acompanhado:
— As privatizações têm mais de 15 anos. Depois de tanto tempo, não era para trens, metrô e barcas estarem funcionando adequadamente? No meu ponto de vista, a fiscalização, a cargo da Agetransp (agência que regula os serviços estaduais de transportes concedidos), tem sido parcimoniosa. Já o governo tem sido tolerante. Hoje, o metrô do Rio transporta apenas 600 mil pessoas, em média, diariamente. Os trens, que no passado já levaram 1,2 milhão de passageiros por dia, atualmente transportam 500 mil. Só 12% das viagens em transportes públicos são feitas em metrô e trens. Os contratos de privatização têm de ser discutidos publicamente.
Bahury compara a rede de metrô do Rio com à de outras cidades, para mostrar as disparidades. Com a primeira estação inaugurada em 1979, o metrô carioca tem 35,6 quilômetros em operação (a Linha 4, ainda em construção, não está contabilizada) e 34 estações. O de Seul, por exemplo, que começou a funcionar em 1974, tem 286 quilômetros e 266 estações. Também de 1974, o sistema de São Paulo tem 70 quilômetros e 62 estações.
— Como ter um plano de contingência com uma oferta de trens e metrô tão pequena? Não foi dada prioridade ao transporte de massa. Os ônibus deveriam ser transporte complementar.
Mais 15% de tráfego após o carnaval
Já o professor José Eugenio Leal, do Departamento de Engenharia de Transportes da PUC, defende a criação de uma agência metropolitana de transportes, para interligar concessionárias, governo e prefeituras, permitindo que conversem e se antecipem a eventuais problemas. Tão importante, de acordo com o engenheiro, é o planejamento preceder qualquer intervenção viária.
— Estado e município têm fôlego para investir. Mas não têm pessoal para gerenciar os impactos. Os órgãos públicos precisam de gente para planejar e informar melhor as pessoas. As mudanças de trânsito, por causa do fechamento da Perimetral, que foram muitas, tinham que ser informadas com mais antecedência e mais detalhadamente. Essas alterações deveriam também ter chegado ao sistema de GPS. Hoje (ontem) havia muita gente perdida.
E dias piores virão, alerta o professor Paulo Cezar Martins Ribeiro, da Coppe/UFRJ:
— Estamos no auge das férias. No dia 10 de março, depois do carnaval, o aumento do tráfego deve ser de 15%. Aí, é que as pessoas vão sentir, de fato, as consequências do fechamento da Perimetral.
Para Paulo Cezar, não esperar que o túnel da Avenida Binário do Porto ficasse pronto (previsto para o primeiro semestre deste ano), antes de fechar totalmente o elevado, foi um erro. O professor da Coppe criticou ainda a falta de planejamento entre os meios os meios de transportes.
Fonte: O Globo
Publicada em:: 28/01/2014
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