Maria Fumaça
"[...] foi a pata dos muares, como os cascos das boiadas, depois da dispersão dos currais pelas zonas propícias à criação, que ajudou a abrir as estradas que ainda hoje são trafegadas no interior, muitas das quais orientando as ferrovias e as rodovias."
João Dornas Filho Por muitos anos o tropeiro foi o grande fomentador do nosso país carregando nos próprios braços e ombros e no lombo de seus animais os costumes indígenas, africanos e europeus. Os seus primitivos pousos e ranchos deram origem a quase todas as nossas vilas e cidades, mantendo vivos os núcleos urbanos isolados, tornando-se efetivamente o consolidador das fronteiras nacionais e viabilizador da nossa economia nos séculos XVII e XIX, e até nas primeiras décadas do atual, atingindo com isso, a integração, a interiorização e a difusão dos nossos usos e costumes.
É sabido que o antigo arraial de Curralinho surgiu como ponto de passagem e pouso de boiadas e tropas que vinham do norte de Minas Gerais e das regiões ribeirinhas do médio vale do Rio São Francisco. Porém, no limiar do século XX eis que chega ao povoado uma das maiores inovações tecnológicas do século anterior: a chegada dos trilhos da Central do Brasil. Tal fato irá imprimir ao lugarejo um rápido desenvolvimento, fazendo-o superar em progresso a todos os arraiais vizinhos.
Com o trem de ferro o mundo torna-se pequeno, as distâncias diminuem e as viagens e as notícias tornam-se mais rápidas. O impacto da estrada de ferro na vida das populações está bem expresso numa frase do romancista inglês William Makpeace Thackeray: “Nós, que viemos antes da estrada de ferro e sobrevivemos ao mundo antigo, somos como Noé e a sua família ao saírem da arca!”
A chegada da linha trouxe também outros moradores que contribuíram para o progresso da vila. Muitos eram comerciantes, ferroviários, professores, hoteleiros, industriais e fazendeiros. Além disso, Curralinho foi ligado por estrada de ferro com a capital Belo Horizonte e com o Rio de Janeiro, capital federal, o que possiibilitava acesso rápido às novidades que surgiam nestes lugares.
A partir da construção dos ramais para Diamantina, à leste, e Pirapora, à noroeste, tornaram o município de Corinto um dinâmico entroncamento da estrada o que possibilitou um grande movimento de passageiros e o desenvolvimento econômico da cidade. A cidade só conheceria outro surto de senvolvimento, na década de 1950, com a construção da Barragem de Três Marias.
O trem até hoje faz parte do cotidiano corintiano e este site seria muito pequeno para contar as histórias e lendas envolvendo os ferroviários do lugar. O importante é que tanto o tropeirismo quanto a ferrovia marcaram e ainda marcam a história do município e esperamos que as gerações futuras saibam dar o devido valor àqueles que nos antecederam. Parafraseando o romancista inglês William M. Thackeray:“Nós, que viemos após a estrada de ferro e sobrevivemos ao mundo moderno, temos que ser como como Noé e a sua família ao entrarem na arca." Temos que preservar nosso patrimônio histórico e nossa memória a fim de salvá-los da extinção.
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