19/09/2011 - O Estado de S.Paulo
Nos próximos três anos, a indústria eólica vai fabricar cerca de 4 mil aerogeradores e 4 mil torres; nos estaleiros, 278 embarcações já estão em construção e outras 65 ainda serão contratadas; no setor ferroviário, até o fim da década, a produção deverá atingir 40 mil vagões e 2.100 locomotivas. Ao contrário da indústria tradicional, esses fabricantes não têm do que reclamar: estão com a carteira cheia de pedidos e faturando como nunca.
No Brasil, elas estão aproveitando para faturar em cima da baixa oferta da infraestrutura brasileira, que representa inúmeras possibilidades de investimentos. O setor ferroviário é um deles. Nos últimos cinco anos, a cadeia produtiva dessa indústria ganhou 78 novas empresas, afirma o diretor do Negócios nos Trilhos, Gerson Toller, destacando que o segmento agora tem 428 fornecedores com produção nacional. Uma das primeiras a enxergar o potencial do setor foi a GE, que retomou a produção de locomotivas no País, em 2008. O presidente da divisão de transportes para América Latina da multinacional americana, Guilherme Melo, lembra que a década de 90 foi muito difícil. Naquela época, só havia demanda para repotencializar máquinas antigas. "Com a privatização, o mercado voltou. Hoje temos 120 pedidos de locomotivas, o dobro do ano passado."
Para o executivo, as oportunidades de negócios são enormes. Ele lembra que os 28 mil km de ferrovia do Brasil - pouco para a dimensão do País - transportam apenas 26% da carga nacional, a maioria de grãos e minério. Esses números já entraram no radar de outros fabricantes, como a japonesa Hitachi e a americana Caterpillar. As duas anunciaram em julho a construção de fábricas em Sete Lagoas (MG) e Araraquara (SP).
O interesse dos investidores, no entanto, vai além das cargas, destaca o presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Vicente Abate. Segundo ele, a carência do transporte de passageiros nas grandes cidades têm motivado uma série de ampliações e construção de novas fábricas no País.
Além da canadense Bombardier, que produzirá monotrilhos em Hortolândia (SP), a brasileira MPE vai inaugurar em quatro meses uma unidade no Rio de Janeiro. O presidente da companhia, Renato Abreu, afirma que há planos para fábricas em Manaus (AM) e em Cruzeiro (SP). O grupo venceu, em consórcio com a estreante Scomi, da Malásia, a licitação para construção do monotrilho que ligará a estação São Judas do metrô ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
Os asiáticos também estão de olho no potencial eólico do Brasil. Desde a crise de 2008, que praticamente reduziu a zero os pedidos dos Estados Unidos e Europa, fabricantes de todos os continentes desembarcaram no País com apetite voraz. Em três anos, eles conseguiram transformar a energia eólica do Brasil numa fonte tão competitiva quanto a hídrica. Foram contratados cerca de 6 mil MW, que representam investimentos da ordem de R$ 26 bilhões, diz o presidente da Abeeólica, Ricardo Simões.
Eles destaca que, quando chegou na associação, havia 54 associados. Hoje esse número já soma 91. Como são equipamentos grandes e sensíveis ao transporte, os fabricantes buscam se instalar próximo dos parques eólicos. Além disso, para conseguir financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), as usinas precisam contratar equipamentos nacionais (60% do valor tem de ser fabricado no País).
De acordo com dados da Abeeólica, hoje o Brasil tem fábrica quatro fábricas de aerogeradores em operação e quatro em construção. Mas há planos para novas unidades. A argentina Impsa, por exemplo, construiu uma fábrica em Pernambuco, com capacidade para produzir entre 8 e 10 geradores por semana, e já procura local para levantar uma nova planta no Sul ou Sudeste do País. Também vai investir numa fábrica de componentes eletrônicos para usinas eólicas, afirma o presidente da Impsa, José Luis Menghini.
Até 2014, o País poderá ter 7 mil MW de energia eólica no sistema. Isso significa sair dos atuais 0,8% para 3% de participação na matriz elétrica. "Entre os 30 países que usam energia eólica, o Brasil se tornou a nação com a menor tarifa de eólica do mundo", diz o presidente da fabricante indiana Suzlon, Arthur Lavieri. A empresa está construindo, em parceria com a brasileira Aeris, uma fábrica de pás eólicas. A planta nem começou a operar e a companhia já pensa em duplicação. "Se tudo caminhar como estamos planejando, teremos de ampliar a produção no ano que vem."
No setor naval, só as ampliações já não resolvem mais. O jeito tem sido abrir novos estaleiros. São sete empreendimentos em construção no Rio Grande do Sul, Pernambuco e Rio de Janeiro. De inexpressiva no início dos anos 2000, a indústria naval brasileira já representa 4% do volume total de navios em construção no mundo. Essa indústria emprega 56 mil trabalhadores. Até 2014, a expectativa é que sejam criados 15 mil novos empregos diretos no setor.
Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), em maio, o Conselho Diretor do Fundo de Marinha Mercante aprovou prioridade no financiamento de 217 obras embarcações e seis estaleiros num total de R$ 9,8 bilhões. A maioria desses projetos ainda não estão na carteira de encomendas dos estaleiros.
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