09/08/2012 - Brasil Econômico
Hoje, responsável por 28% da carga movimentada no Brasil - ou
apenas 12%, se descontado o minério de ferro -, as ferrovias podem
elevar a fatia para 38% até o fim da década, um avanço de 36%.
A transição representará ganho de eficiência e redução de custos com
frete no país - nos EUA, o custo do transporte sobre trilhos é 40% menor
do que o por rodovias.
O cálculo é de Paulo Resende, coordenador de infraestrutura e logística da Fundação Dom Cabral.
"O deslocamento da matriz de transportes aponta para o setor
ferroviário. Carregar itens de baixo valor agregado e peso bruto alto em
caminhões é ineficiente. Por isso, minerais e cargas de granéis
agrícolas e insumos, como fertilizantes, devem fazer a transição."
Para que a malha e o serviço ferroviário avancem, porém, será preciso
contar com investimentos privados em combinação com iniciativas do
governo. A desoneração das Parcerias Público-Privadas (PPPs), publicadas
ontem no Diário Oficial, devem favorecer essa conjunção.
No setor público, os investimentos estão chegando pelo Programa de
Aceleração do Crescimento. "O PAC 1 direcionou R$ 130 bilhões para
transportes, sendo 45% para ferrovias", contabiliza João Guilherme
Araújo, diretor de desenvolvimento e novos negócios do Instituto de
Logística (Ilos).
O objetivo é reduzir a dependência do frete rodoviário, que, como ainda é o mais usado no país, ficou com 50% da verba.
Além das ferrovias, as outras rotas de fuga para o transporte de
cargas são a cabotagem (leia matéria na página ao lado) e o frete aéreo.
"Por avião, sempre fica mais caro. Mas é um meio que vale a pena para
a movimentação de chips, eletroeletrônicos e equipamentos de alto valor
agregado", diz Araújo. Na cabotagem, os obstáculos são a falta de
estrutura portuária - os bens disputam espaço com mercadorias
importadas.
Dependência de caminhões
O advento de novas regulações para o transporte rodoviário e a
profissão de motorista, que deverá se traduzir em aumento do custo do
frete (veja quadro ao lado), reforçou o interesse das companhias na
busca de maior eficiência.
A Coca-Cola/Femsa, por exemplo, estima em 40% a elevação dos gastos.
"Teremos de repassar os custos adicionais ao preço dos produtos", diz
Ramez Bichara, diretor de logística. A companhia estuda revisão dos
trajetos e a contratação de pessoal, pois não pode abrir mão dos
caminhões.
"Somos dependentes do transporte rodoviário porque é o meio de maior
capilaridade, e temos prazo máximo de entrega, 48 horas", explica.
A São Martinho, uma das maiores no país em manufatura de álcool e
açúcar, é outra que está focada na eficiência logística. Com 90% do
açúcar produzido voltado à exportação, a empresa já dá prioridade ao
transporte de granéis até o Porto de Santos por meio ferrovias, diz o
diretor de logística, Helder Gosling.
O grupo é o único no país a ter uma usina com terminal ferroviário próprio, na cidade de Pradópolis, no interior de SP.
"Precisamos de transporte de grande escala. Mas os custos em
ferrovias poderiam ser muito mais baixos se o modal fosse mais
eficiente", diz, lembrando das dificuldades no trânsito das cargas para
ter acesso ao porto.
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