A cidade entregou a primeira parte da restauração de seu complexo ferroviário, um dos mais importantes do Brasil.
Existe um ditado que diz que não podemos saber aonde chegar se não conhecemos nossas origens. Por isso, preservar a cultura de um povo é tão importante para o desenvolvimento de uma cidade. Ribeirão Vermelho é exemplo disso. A história do município se confunde com a história da estrada de ferro. Mesmo com menos de quatro mil habitantes, a cidade possui um dos mais importantes complexos ferroviários da América Latina.
Dessa forma, é natural que sua população seja também constituída por ex-ferroviários, que sonham em ver o patrimônio histórico preservado e que lutam pela sua recuperação. O primeiro passo para isso foi dado, no último dia 6, com a inauguração de parte do acervo, inteiramente restaurado. O Galpão de Baldeação, estrutura que era utilizada para armazenar e distribuir materiais de consumo e alimentos para as várias cidades cortadas pela ferrovia, foi transformado em um Centro Cultural. O espaço poderá ser utilizado para a realização de peças teatrais, apresentações musicais, atividades lúdicas e outras ações de cultura e lazer. Ao todo, foram mais de meio milhão de reais investidos na recuperação do edifício e de uma praça que integrará as estruturas do complexo, cuja construção terá início ainda no primeiro semestre, com verbas do governo do estado e da prefeitura municipal.
Dezenas de autoridades participaram da cerimônia de inauguração, entre elas o presidente do Circuito Ferroviário Vale Verde, César Mori Junior e o assessor parlamentar Júlio Perón, representante do presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputado Dinis Pinheiro, que se disse impressionado com o complexo ferroviário. “Eu nuca vi nada parecido com esse acervo. Estou absolutamente encantado com a grandiosidade das estruturas. E ainda mais impressionado com o amor que a população de Ribeirão Vermelho sente pelo seu patrimônio”.
Vicente Ferreira é ex-ferroviário e tem 90 anos de idade. Ele também participou da cerimônia e concorda com Perón. “Esses prédios são bonitos demais. Eles preservam a história da nossa cidade, porque a maioria das famílias ribeirenses é formada por ferroviários. A reforma do Galpão é um presente para nós“. Ele se recorda de como era o trabalho na ferrovia e disse que nunca imaginou que veria as edificações recuperadas. “Eu trabalhava nas oficinas, construindo partes das máquinas. O trabalho era muito difícil, a gente trabalhava pesado lá dentro, mas era muito bom. Quando o complexo foi desativado, eu e todos os ferroviários ficamos muito tristes. Eu nunca deixei de ter esperanças de que os prédios fossem recuperados, mas pensei que demoraria muitos anos ainda e eu não veria pronto.“
O complexo começou a ser construído no século 19. A primeira edificação a ser concluída foi a Estação Ferroviária, em 1888. A partir dela, todos os outros prédios foram construídos, incluindo a Rotunda, que comportava até 30 locomotivas e era utilizada para fazer manutenção, consertos e manobras nas máquinas. O complexo ferroviário foi totalmente desativado em 1996, quando já se encontrava deteriorado.
A busca pela recuperação do acervo teve início em 2005, quando a cidade comprou as estruturas da Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) e as tombou como Patrimônio Cultural. A partir disso, o município passou a buscar convênios e parcerias que permitissem a recuperação do complexo. Em sua última visita à região, para a inauguração da Estrada do Madeira, que liga Ribeirão Vermelho a Lavras, o governador Antônio Augusto Anastasia reconheceu a importância do patrimônio ferroviário ribeirense. “Ribeirão Vermelho tem o maior complexo do Brasil. Ele faz parte da memória de todos os mineiros e, portanto, é nossa responsabilidade preservá-lo. Nós iremos estudar parcerias para a recuperação do complexo”.
Na Estação Ferroviária já funcionam setores da administração municipal e são desenvolvidos projetos sociais. Estão previstas ainda, além da construção da praça da Estação, obras como a recuperação do prédio da Casa do Agente, que será transformado em um Museu Ferroviário.
A prefeita municipal, Ana Rosa Lasmar, se emocionou durante a inauguração do Galpão de Baldeação, quando lembrou as dificuldades enfrentadas na busca pela total recuperação do patrimônio. “Fizemos nosso dever de servidores do povo, compramos, pagamos e concluímos a primeira etapa do restauro. Agora, com a parceria do governo do estado, estamos otimistas que realizaremos o sonho de todos os ribeirenses. A cidade devia isso ao seu passado e a todos que ajudaram a formar a identidade ferroviária da região. Sem preservarmos a história, não conseguiremos ir adiante."
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