Fábricas no Vale do Paraíba que ficam entra a Dutra e a linha férrea são obrigadas a escoar produção pela estrada.
Parte da capacidade ociosa da ferrovia entre Rio e São Paulo começa a ser usada para o transporte de areia
Lalo de Almeida/Folhapress |
Operador durante manobra de trem da MRS Logística carregado de minério de ferro em pátio em Itaquaquecetuba (SP)
DO ENVIADO AO VALE DO PARAÍBA
Na estreita faixa que separa a via Dutra e a linha férrea, há centenas de empresas instaladas. Uma delas, a MWL do Brasil, em Caçapava (SP), produz rodas e eixos para trens. Mas uma parte dos equipamentos ferroviários da MWL é exportada sem conhecer os trilhos brasileiros.
O domínio da carga de minério na via faz com que o desvio de 30 metros entre a linha e a fábrica da MWL esteja coberto de mato e areia por falta de uso. Dezenas de fábricas com desvios semelhantes encontram-se na mesma situação.
Marcus Vinicius Hypólito, administrador do terminal multimodal que ainda recebe carga dos trens, diz que por ali passavam no início da década passada milhares de contêineres por mês vindos da ferrovia. Mas há dois anos a operação parou, e os equipamentos vão por rodovia.
"A região tem potencial para levar contêiner por trem, mas seria necessário uma política pública para coordenar vários clientes com pequenos volumes."
AREIA
Enquanto a política pública não vem, o capital vai se arrumando. Parte da grande capacidade ociosa da linha começou a ser usada para transportar areia. Em cinco anos, esse transporte subiu de 1,21 milhão para 1,58 milhão de toneladas. É 10% da demanda de São Paulo.
Cada milhão de toneladas transportado por trem tira 80 mil viagens de caminhão. José Roberto Lourenço, diretor de projetos da MRS, olha para um terminal multimodal de areia em Jacareí, na borda da Região Metropolitana de São Paulo, e diz com pesar: "É o nosso tipo de carga. Mas não temos capacidade de levar mais".
O motivo da recusa está à frente. A partir de Itaquaquecetuba, a linha sai das bucólicas paisagens do Vale do Paraíba para as cidades do entorno. Lá, os trem urbanos de passageiros da CPTM e os de carga compartilham trecho de 12 km até Suzano.
Os comboios da MRS só podem passar das 9h às 15h e das 21h às 3h, controlados pela CPTM. A velocidade não é baixa (perto de 13 km por hora, em média), mas não é possível fazer programação.
"Estamos há um ano tentando licença para fazer uma linha exclusiva. O Ibama já nos deu, mas a agência reguladora de transportes, não", afirma Lourenço.
CONCENTRAÇÃO
O presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportadores Públicos), Ayrton Camargo e Silva, diz que a ferrovia nacional foi moldada para carga de grande volume e baixo valor (minério) -por isso há a dificuldade de operar carga de baixo volume e alto valor (contêiner).
Segundo ele, para a ferrovia SP-RJ ter melhor utilização, seria necessário, além de resolver os gargalos, conhecer melhor os pontos de origem e destino das cargas.
Outro dado que mostra a concentração de carga é a quantidade de fluxos que passam no trecho. O estudo diz que em 2006 havia 220 pontos de origem e destino ao ano passando no ramal. Isso significa que um trem saiu de um ponto e chegou a outro usando o ramal de São Paulo. Em 2007, o número foi a 251, para cair a 176 em 2010. Ou seja, menos carga saiu ou chegou a menos lugares.(DIMMI AMORA)
"Hoje, se Papai Noel chegar dizendo que tem bilhões para investir em ferrovia, ninguém ia saber dizer onde colocar o dinheiro porque não há pesquisa sobre a origem e o destino"
AYRTON CAMARGO E SILVA
presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportadores Públicos)
Matéria enviada por Antônio Pastori Presidente da AFPF.
Postar um comentário
Postar um comentário