Anderson Nascimento Anderson Nascimento Author
Title:
Author: Anderson Nascimento
Rating 5 of 5 Des:
Informação ou Incompetência? Assistimos a um vídeo de1962, do Ministério da Educação e Cultura que através do Instituto Nacional de...
Informação ou Incompetência?


Assistimos a um vídeo de1962, do Ministério da Educação e Cultura que através do Instituto Nacional de Cinema Educativo nos apresentou esta produção tão “singela” e curiosa cujo título: “Condenados pelo Progresso” nos é bastante peculiar quando o assunto é ferrovia, aliás, o vídeo, apesar de antigo, provavelmente foi bastante utilizado até os anos 90. Com tomadas de uma localidade isolada, tenta convencer seu público alvo do abandono ferroviário consciente e realizado para melhorar a vida da população, realmente curioso. Não menos traumático, é a narrativa que vem “explicar” o tal abandono consciente. Com um título tão sem sentido e coerência quanto o que sustenta o pavilhão nacional, o vídeo foi criado, idealizado, encomendado, forjado e esculpido (ou será cuspido?) a mais de cinco décadas, provavelmente, imagino, pelos pais daqueles que no meio da década de noventa terminaram por destruir por completo a RFFSA. É claro que tudo em favor do PROGRESSO tão “perseguido” por estas terras. Não é difícil imaginar que a baixa qualidade das informações e o modo simplificado da apresentação dos fatos relatados na produção, não levou em conta, que em algum momento, qualquer um que viesse a assistir tal vídeo pudesse ter a capacidade de percepção / entendimento de que tudo foi feito para induzir a opinião. Absolutamente!
Na verdade, tinham a absoluta certeza que os cidadãos desse país, infelizmente, em sua maioria, idiotizados e incapazes de criticar coisa alguma, mesmo sendo algo tão explicitamente medíocre, passariam a acreditar e tomar o relato como verdade. Não é preciso ser perito em transportes, logística ou qualquer outra coisa para perceber que o vídeo em questão está desenhado para induzir a opinião alheia, o que convenhamos não é muito difícil pelo nosso país afora e até mesmo pelo mundo. Atualmente, vivemos a era da informação, tudo em tempo real, no entanto, a quantidade de informação é tão grande que muitos, a maioria, não as interpreta, analisa ou reflete, entretanto, tira conclusões! Erro fatal. A informação é como uma refeição, deve ser “cheirada”, “provada”, “mastigada” (várias vezes), “digerida”, para só depois ser “absorvida”. Porém, para a tristeza dessa nação, quase ninguém mais faz isso, deve ser um efeito colateral do tal progresso. Atualmente, alguns de nós, sabemos que abdicar das ferrovias foi um equívoco que trouxe um atraso histórico a este país em desenvolvimento, pelo menos dizem que está se desenvolvendo, e este é um ponto crucial, apenas alguns sabem e apenas alguns lutam por isso. A sensação do caótico nos assalta a cada passo da vida cotidiana. Corriqueiramente vemos pessoas cujo procedimento de hoje está em completa e absoluta contradição com o de ontem, e certamente se tornará contraditório com o de amanhã. Indivíduos, em uma mesma frase, apresentam convicções que a lógica aponta como incompatíveis uma com a outra. É raríssimo encontrarmos pessoas que, ao longo de tudo quanto pensam, dizem e fazem, se manifestam coerentes com alguns tantos princípios fundamentais.  Apreciando tal quadro, tais indivíduos podem ser divididos em três grupos principais:
a)     Uns – os menos numerosos – compreendem, admiram e aplaudem a coerência. Por isto, estigmatizam o ilogismo ambiente e lhe imputam os piores frutos presentes e futuros;
b)     Outros fecham os olhos para o fato e, quando este lhes entra pelos olhos adentro, procuram justificá-lo: a contradição seria, segundo eles, a ruptura necessária do equilíbrio ideológico de outras eras, o efeito típico do tumultuar fecundo das épocas de transição; por isto, ela não produz desastres senão na epiderme da realidade, e tem de ser vista, em última análise, com benigna e sorridente indulgência. O grupo de indivíduos que pensa deste modo já foi maior, mas com os acontecimentos decorrentes de tal comportamento, vão rareando os que conseguem sustentar a despreocupação risonha e benigna de outrora;
c)     Nosso terceiro grupo, é também o mais numeroso, são aqueles indivíduos que suspiram diante da contradição caótica de nossos dias, aturdem-se... mas não passam disso. Mudar de posição lhes parece impossível. Pois se a contradição os assusta, por outro lado, implicam, do mais fundo de sua alma, com a coerência. Eles gostariam de prolongar, contra ventos e marés, seu mundo agonizante que resulta do “equilíbrio” de idéias contraditórias, as quais se “moderam” umas às outras em amável coexistência. E como, para esse grupo, as idéias são feitas para pairar no ar, sem relação com a realidade, não há, segundo eles, o menor risco de que esse “equilíbrio” de contradições venha a se romper algum dia com prejuízo para a pacata e boa ordenação dos fatos. Este grupo vive sobre constante terror: de um lado, o caos que lhe entra como um tufão pela casa e pela vida adentro, e de outro lado uma coerência que lhe parece correta no plano da lógica, mas espetada, desalmada, e numa palavra, desumana. Estarrecidos, diante da opção, os indivíduos deste grupo param. E ficam a suspirar, de braços cruzados, na espera obstinada de alguma coisa que faça cessar o caos, sem que se tenha que implantar o reinado da coerência.
Para concluir, produções como esta são construídas em escala quase industrial para todas as áreas e situações, basicamente, para os indivíduos do terceiro grupo. Nosso caos ferroviário é um exemplo clássico da inércia de indivíduos incapazes de sair de sua “zona de conforto” para, pelo menos, questionar as atitudes e os atos que foram cometidos contra um patrimônio que era de todos. Hoje carregamos o fardo do abandono às ferrovias que pôs em xeque todos aqueles que levantaram a bandeira da destruição das mesmas, mas ainda convivemos com a mais completa omissão de uma sociedade incapaz de observar os prejuízos que a cerca.

Texto:
Anderson Nascimento com trechos de Plínio Corrêa de Oliveira

About Author

Advertisement

Postar um comentário

Anônimo disse... 11 de janeiro de 2013 às 23:12

Nasci em 1961, meu pai era ferroviário da Cia. Paulista de Estrada de Ferro e trabalhava em Iguatemi (distrito de Jau-SP) e que era a última estação do ramal de Dois Córregos-SP. No ano de 64 veio o golpe militar e em 66 os milicos, vendidos em favor das multinacionais do petróleo e montadoras, fecharam o ramal e a partir começou o desmonte das ferrovias. O resto todo mundo já sabe no que deu. Vivemos em um país que teima em seguir na contra mão da história.

Anônimo disse... 17 de janeiro de 2013 às 15:38

Anônomo disse bem.Os militares mandaram neste país por 21 anos e vamos carregar este fardo por muito tempo ainda.

 
Top