03/05/2012 - Folha de S.Paulo
A expansão do bilhete único e a melhoria da rede de transporte
sobre trilhos em São Paulo traduziram-se, nos últimos cinco anos, em
significativo aumento da utilização do metrô e dos trens metropolitanos -
em detrimento da procura por linhas de ônibus.
O fenômeno, previsível, reflete a demanda reprimida por transporte
público eficiente na cidade, que paga o preço do privilégio concedido
durante décadas ao automóvel.
Capital nacional das obras viárias, São Paulo tornou-se símbolo de
tráfego congestionado e transporte coletivo de má qualidade, fórmula que
deu no pior dos mundos.
Nos últimos anos, felizmente, verificaram-se progressos na melhoria
do transporte. Novas linhas de metrô foram inauguradas, elevou-se a
qualidade dos serviços da CPTM (em que pesem as constantes falhas
operacionais) e criou-se a possibilidade de, com a tarifa do bilhete
único, realizar mais de uma viagem em meios diferentes, no período de
duas horas.
O resultado é que desde 2006 o número anual de passageiros
transportados subiu 63% na CPTM, 44% no metrô e só 13,3% nos ônibus
(10,5%, se consideradas apenas as linhas municipais).
Numa cidade de grandes dimensões e ruas travadas, como é a capital
paulista, constata-se o abandono do trajeto em ônibus sempre que for
possível trocá-lo -integral ou parcialmente- por trem ou metrô, mais
rápidos e previsíveis.
Para que o ônibus possa cumprir seu papel com eficiência, é preciso
construir corredores com plataformas maiores, semáforos programados e
pistas de ultrapassagem, que permitam o desenvolvimento de velocidade
adequada. Essas vias deveriam servir como troncos para trajetos mais
longos em áreas que não são servidas por metrô.
Sinal de descaso, o prefeito Gilberto Kassab prometeu entregar 66 km de corredores na atual gestão, mas não concluirá nenhum.
Além de mais corredores, é preciso aperfeiçoar as conexões mais
curtas de ônibus, que, nos bairros, ligam o usuário ao trem ou ao metrô.
Tais ligações precisam ser mais bem planejadas, de modo a evitar a
sobrecarga de determinados acessos ao transporte sobre trilhos. Em vez
de concentrar as paradas de ônibus num único ou em poucos terminais de
trem ou metrô, é preferível distribuir os passageiros por diversas
estações.
O trânsito é um sistema que depende de uma série de fatores para
ganhar fluidez. Os dados sobre o aumento da demanda por transporte em
São Paulo atestam não apenas a óbvia necessidade de expandir o sistema,
mas também de um planejamento mais equilibrado e integrador.
Postar um comentário
Postar um comentário