Henrique Meirelles
O trânsito de São Paulo lembra aquela experiência clássica com o sapo na
água fervente. Quando o sapo cai dentro dela, salta rapidamente. Mas se
ele está dentro da água enquanto a temperatura sobe gradualmente, o
sapo morre passivamente.
Seriamos todos sapos vi-vendo a gradual imobilização de São Paulo?
De 1982 a 2003, o Brasil cresceu a taxas pouco acima de 2% ao ano. O
país ajustou-se para crescer a taxas baixas. Já no período de 2004 a
2010, a economia brasileira cresceu a taxas médias perto de 5% ao ano.
Os benefícios do crescimento transformaram o Brasil, mas temos também
que enfrentar seus custos e nos ajustar.
O trânsito nas grandes cidades é uma das consequências do despreparo
para crescer a taxas mais altas. Com a estabilidade econômica, mais
renda e crédito, os brasileiros começaram a realizar o sonho de ter seu
carro.
Embora esse movimento histórico tenha elevado a arrecadação
tributária, não gerou melhora da malha viária urbana capaz de absorver a
nova frota e os novos motoristas, prova da incapacidade dos poderes
públicos, até este momento, de prover infraestrutura que sustente um
crescimento vigoroso.
São Paulo é outra história. Centro industrial, financeiro e comercial do
país, a produtividade da cidade afeta a todos os brasileiros. Cada hora
que um trabalhador perde no trânsito paulistano afeta a produção
nacional.
Na maioria dos países, o centro econômico coincide com o político e o
administrativo, facilitando a alocação prioritária de recursos na
principal máquina produtiva do país. Londres, Paris, Buenos Aires,
Santiago, Seul e muitas outras demonstram tal fato (os EUA são a exceção
que confirma a regra, pois lá a atividade econômica é descentralizada).
Cedo ou tarde, o Brasil deverá enfrentar esse enorme problema, agudizado
pela crise da infraestrutura, porém mais profundo e abrangente do que
ela.
Temos de pensar estrategicamente um modelo de governança que viabilize o
trabalho conjunto dos atores públicos e privados, para efetuar
intervenção estrutural no transporte da metrópole paulistana.
São Paulo precisa não só triplicar a extensão do metrô, mas também criar
linhas integradoras que conectem outras linhas, formando uma rede que
atinja todos os pontos de alta densidade de tráfego de pessoas. E as
linhas de trem devem ser modernizadas e transformadas em linhas de metrô
de alta densidade.
A dimensão do desafio é enorme. Será possível vencê-lo se for tratado
como necessidade nacional. Um sistema de transporte coletivo capaz de
transportar a população com rapidez, segurança e conforto é o mínimo que
uma metrópole da sétima maior economia do mundo deve oferecer.
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