Funcionários apresentam locomotiva na fábrica do grupo Caterpillar, em Sete Lagoas: produção para atender a demanda do mercado interno Sete Lagoas –Em uma década, mais de 35% da carga transportada no país deve usar o sistema ferroviário, segundo o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos. A reativação e modernização de mais de 10 mil quilômetros de trilhos a partir do Plano Nacional de Logística deve iniciar processo de transferência do transporte de carga das rodovias para as ferrovias. Como consequência, o custo de logística deve ser reduzido e o investimento do poder público em manutenção de estradas também deve cair, tendo em consideração que para cada locomotiva em operação até 480 carretas podem ser retiradas de circulação. "Para isso, precisamos investir para criar ferrovias e reduzir os gargalos", afirmou Passos, na inauguração da unidade de montagem de locomotivas da Electro-Motive Diesel (EMD), empresa do grupo Caterpillar, em Sete Lagoas.
Atualmente, entre 20% e 30% do que é produzido no país é transportado sobre trilhos, enquanto o modal rodoviário é responsável por levar entre 50% e 60%, segundo dados do governo federal e da Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Em países como Rússia, Estados Unidos e Canadá a proporção é o oposto, com o volume entre 40% e 65%. Se excluída a participação do minério de ferro, a participação do modal ferroviário tem queda significa de 20%, ou seja, o modal passa a módicos 10% do total da matriz de transportes. "É verdade que o Brasil ainda tem muito a vencer para adequar sua infraestrutura de transporte. Mas o estado atual é melhor que o de anos anteriores. Com o plano, desoneramos rodovias no que tange à necessidade de investimento para manutenção e podemos fazer aporte em outros modais", afirma o ministro, reiterando a meta de transferir 10% da carga para o modal ferroviário em 10 anos.
Entre outros, o chefe da pasta de Transportes prevê maior facilidade para o escoamento de grãos vindos do Mato Grosso e o desenvolvimento da região de Caetité, na Bahia, onde se encontra considerável quantidade de riqueza mineral, com a maior mina de urânio a céu aberto da América Latina. Ao todo, o governo federal prevê investir R$ 133 bilhões no plano de logística, sendo que R$ 91 bilhões serão destinados para a construção de mais de 10 mil quilômetros de ferrovias em todo o país nos próximo 25 anos. Nos próximos cinco anos, serão R$ 56 bilhões investidos somente em ferrovias. Em Minas, serão ativados trechos ligando Belo Horizonte a Salvador e outro conectando Corinto ao Porto de Campos (RJ). "Temos uma boa perspectiva de crescimento, mas isso não se fará se não tivermos uma infraestrutura sólida", afirma Passos.
Passageiros
Mas a redução de custo operacional também deve ser percebida no transporte de passageiros. A construção do trem de alta velocidade, ligando Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, deve permitir que muitos carros sejam retirados das rodovias. O presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), órgão criado pelo governo federal para participar do plano de concessões, Bernardo Figueiredo, também presente na cerimônia, reiterou a perspectiva de entrega das obras até 2020.
Segundo o diretor de Desenvolvimento de Negócios do Instituto Ilos, João Guilherme Araújo, outro ponto favorável à mudança na matriz de transportes brasileira é a maior rigidez em relação ao trabalho dos motoristas profissionais. As regras, que permitem aos caminhoneiros rodarem somente oito horas por dia, devem onerar o modal, obrigando as empresas a migrar para outros tipos de transporte. "Isso é um impulsionador para todos os outros modais", afirma.
Atrasos
Se, por um lado, o governo federal tem expectativa de executar o Plano Nacional de Logística a todo vapor, com a duplicação de rodovias em até cinco anos, por outro, a burocracia e a lentidão do Estado podem atrasar o processo. No cronograma divulgado em agosto, a expectativa era que o primeiro edital de concessão, referente à BR-116 (Rio-Bahia), fosse publicado nesse mês. Mas, como o projeto foi aprovado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) somente no plenário de anteontem, o primeiro adiamento foi confirmado. A intenção do Ministério dos Transportes agora é que a publicação do documento seja feita no mês que vem junto com o da BR-040, trecho entre Brasília e Juiz de Fora, que também foi aprovado na quarta-feira. Segundo o ministro, o motivo do atraso se deve à demora do TCU para analisar os editais. (Com agência)
Aposta no crescimento
De olho na expansão do transporte ferroviário, empresas do setor preparam grandes investimentos. A Caterpillar inaugurou ontem uma planta de locomotivas, em Sete Lagoas, prevendo comercializar até 500 unidades nos próximos cinco anos. A expectativa da empresa é que o mercado demande 1 mil locomotivas no período, ficando a outra metade com a concorrente direta – GE Transportation. Contratos foram assinados para fornecimento de 35 veículos, sendo 14 para a VLI, empresa controladora da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), e outras 21 para a Eldorado Brasil Celulose, da holding J&F. Além disso, novo contrato deve ser assinado para entrega de mais 18 locomotivas até setembro do ano que vem.
Cada unidade, com potência de 4,4 mil cavalos (o equivalente a potência de 44 carros populares), tem capacidade para transportar até 120 vagões, que carregam até 108 toneladas de açúcar, ou o equivalente a quase quatro carretas cheias.
Os veículos terão 65% de conteúdo nacional, sendo que as peças são fabricadas nas plantas de Hortolândia e Diadema, em São Paulo, e transferidas para Sete Lagoas para montagem. A carcaça é importada do Canadá e dos Estados Unidos, mas a Caterpillar já iniciou estudos para que todo o material seja feito no Brasil. Paralelamente também é elaborado projeto para outro modelo, apropriado para bitola métrica. De 2006 para cá, a empresa investiu aproximadamente US$ 100 milhões no setor ferroviário no país, para ampliar as instalações paulistas, paranaenses e mineiras. O total do aporte em Sete Lagoas é mantido em sigilo.
A unidade de Sete Lagoas tem área de 110 mil metros quadrados, mas, por enquanto, não é usada em sua totalidade. Com isso, caso haja demanda além da perspectiva atual, a empresa pode ampliar suas instalações. Nos primeiros meses, no entanto, serão 98 funcionários trabalhando em turno único, sendo que a fábrica pode receber até cinco vezes mais trabalhadores e ampliar os horários de operação. "Temos capacidade para fazer, nosso desafio é vender locomotiva", afirma, otimista, o diretor-geral da Progress Rail Services, empresa do grupo Caterpillar, Carlos Roso, lembrando que o foco não é exclusivo no mercado brasileiro, mas, sim, de toda a América do Sul.
Fonte: Estado de Minas
Publicada em:: 30/11/2012
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