Os descaminhos de ferro do Brasil - Vol. II
Editada por Túlio de Souza Muniz e José Hamilton Pereira, obra será lançada, hoje, na sede da ACI
Em 1977, caminhonetes foram adaptadas para transitar sobre trilhos no Ceará |
O
Brasil perdeu o trem da história e a América do Sul também. A metáfora
define o pensamento do historiador e jornalista Túlio Muniz acerca da
ascensão, decadência e retomada do transporte ferroviário no Brasil - em
especial, no Ceará. O assunto é abordado no segundo volume do livro "Os
descaminhos de ferro do Brasil", cuja reflexão acontece no momento em
que o Brasil festeja os 158 de sua entrada nos trilhos, com a construção
da Estrada de Ferro Mauá, no Rio de Janeiro, em 1854; e os 140 anos do
início da Estrada de Ferro Baturité, no Ceará.
Para
mostrar o apogeu do transporte ferroviário no Estado, de meados do
século XIX até os anos 1980, o pesquisador lança mão a um rico material
fotográfico. O resultado é um livro-álbum, com DVD, que será lançado às
19h30, no auditório da Associação Cearense de Imprensa (ACI), no Centro.
O
livro foi coproduzido por José Hamilton Pereira, memorialista e
engenheiro aposentado da extinta Rede Ferroviário Federal S/A (RFFSA).
No evento de lançamento, os autores e a pesquisa serão apresentados pelo
jornalista Nilton Almeida. Em 200 páginas (170 de imagens), os autores
continuam o estudo do tema, cujo primeiro volume foi lançado ano
passado.
A publicação é fruto de projeto aprovado pelo Fundo
Estadual de Cultura, este ano. O segundo volume apresenta uma versão
digitalizada que abrange o primeiro livro. O autor chama a atenção para
os aspectos sociais, econômicos, culturais e subjetivos que envolvem o
tema, que encontra eco na memória daqueles que foram sujeitos desse
momento histórico. Além de curiosidade e apreensão nas gerações mais
jovens que assistem ao renascimento do transporte ferroviário.
Túlio
Muniz explica que, neste volume, os autores inseriram temas como a
inserção das mulheres no trabalho ferroviário, o uso da mão-de-obra
escrava, no início do século XIX. "A aceitação foi grande, no ano
passado", conta o pesquisador, afirmando que o desmantelamento da
maioria das ferrovias cearenses são parecidos. O transporte ferroviário
foi fundamental para a expansão econômica e social do País e, nas
últimas décadas, ganha nova dimensão ao ser usado para o transporte
urbano, caso dos metrôs e dos veículos leves sobre trilhos (VLTs).
Sobre
o trabalho, o pesquisador faz questão de ressaltar: "Não se trata de
uma escrita rigorosamente científica, nem tampouco corporativa",
esclarece. "As imagens são priorizadas dentro de uma proposta coerente",
diz. O historiador ressalta o apoio da Secult. O apoio foi determinante
para que a exibição das imagens fosse permitido. Daí, a ideia de anexar
um DVD ao livro.
Neste segundo volume, os autores aproveitaram
para aprofundar as questões teóricas e conceituais, além de aumentar os
temas. Cita como exemplo a inserção da mulher no transporte ferroviário,
além de tocar num ponto delicado, a utilização do trabalho escravo na
construção das primeiras estradas de ferro no País, e a desintegração da
América do Sul. Na opinião do pesquisador, ao relegar ao segundo plano o
transporte ferroviário e priorizar o rodoviário, principalmente a
partir dos anos 1960, o Brasil "perdeu o trem da história" e,
consequentemente, o bonde também, fazendo referência ao transporte
urbano.
Não são apenas os países Desenvolvidos que investiram
forte no transporte ferroviário como alternativa ao transporte de massa
urbano e de carga. Governos de países como Índia e Marrocos não abriram
mão das ferrovias. Túlio Muniz reconhece ser possível conciliar os meios
de transportes ferroviário e rodoviário, ideia que cada vez mais vem
sendo aceita, quando os centros urbanos apresentam sinais de estagnação,
com longos engarrafamentos. No momento, o pesquisador consegue enxergar
alguma mudança no cenário, sobretudo urbano, citando como exemplo
Fortaleza. Acredita que dentro de cinco a 10 anos é possível perceber
uma transformação com a ampliação das linhas de metrô e de VLTs. "É uma
tendência mundial", diz Túlio Muniz.
O Ceará também viveu os bons
ventos do transporte sobre os trilhos, hegemonia que atravessou do
século XIX até a década de 1980. Neste ano, o Estado completa 140 anos
do início da construção de sua primeira ferrovia, a estrada de ferro de
Baturité, vindo em seguida a de Sobral, na região Norte, ligando Sobral
até Crateús, por volta de século XIX. Até 1980, Fortaleza ligava-se a
diversos municípios como Juazeiro do Norte, Crato, além de estados a
exemplo do Piauí e Maranhão, via transporte ferroviário.
LIVRO
Os descaminhos de ferro do Brasil - Vol. II
José Hamilton Pereira e Túlio de Souza Muniz
Ed. Printex
2012, 200 páginas
R$ 40
Mais informações:
Lançamento
do livro "Os descaminhos de ferro do Brasil - Vol. II", de José
Hamilton Pereira e Túlio de Souza Muniz. Às 19h30, na Associação
Cearense de Imprensa (Rua Floriano Peixoto, 735 - Centro). Contato: (85)
3226.6260
IRACEMA SALES REPÓRTER
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