presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, diz que o debate sobre a construção de uma nova ferrovia para ligar o interior do Paraná ao porto de Paranaguá está pacificado. Segundo ele, o estudo sobre o traçado será conduzido a partir da demanda do governo do estado de se fazer uma nova descida direta pela Serra do Mar e não por uma conexão via São Francisco do Sul, no litoral norte de Santa Catarina.
Nós vamos estudar essa alternativa, que é a alternativa que o governo do Paraná defende, que o pessoal da Ferroeste nos trouxe aqui, que é uma descida nova para Paranaguá, que não tem nada a ver com São Francisco, afirmou, em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo. Figueiredo ressaltou, no entanto, que o ponto crítico dessa proposta é a questão ambiental.
Ex-diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Figueiredo é peça-chave do governo Dilma Rousseff na articulação de projetos com a iniciativa privada no setor de infraestrutura. Cabe a ele colocar em prática o Plano de Investimentos em Logística (PIL), pacote de concessões que pretende injetar R$ 133 bilhões em ferrovias e rodovias nas próximas três décadas. Figueiredo vai dar detalhes sobre o PIL hoje pela manhã, em Curitiba, em uma reunião sede da Federação das Indústrias do Estado do Paraná com representantes do governo do estado e do Fórum Permanente Futuro 10 Paraná.
Havia uma dúvida inicial no Programa de Investimentos em Logística (PIL) sobre a melhor forma de se fazer uma nova ligação ferroviária até Paranaguá. O que há de novidade sobre isso?
Esse ponto já está pacificado. A gente vai chegar a Paranaguá pela Ferroeste. Pelo que o governo do Paraná nos passou, a gente vai conectar a ferrovia em Cascavel com a Ferroeste e vai trabalhar junto com a Valec [estatal ligada ao Ministério dos Transportes que cuida das ferrovias] para estudar a melhor alternativa de se chegar a Paranaguá.
Durante uma reunião na Casa Civil com representantes do Paraná, em agosto, foi feita referência a uma nova ligação a Paranaguá por São Francisco do Sul (SC). O governo do estado defende uma nova descida direta pela Serra do Mar, a partir da estação Engenheiro Bley (município da Lapa). Essas propostas podem ser compatíveis?
Não tem sentido construir duas descidas novas para Paranaguá. Existem dois projetos que são diferentes. Um é a ligação com Paranaguá, outro é a ligação com São Francisco do Sul e Itajaí (SC). Nós estamos estudando para o Paraná a ligação de Cascavel até Paranaguá. Nós vamos estudar essa alternativa, que é a alternativa que o governo do Paraná defende, que o pessoal da Ferroeste nos trouxe aqui, que é uma descida nova para Paranaguá, que não tem nada a ver com São Francisco. Mas tem que ver as questões ambientais que essa proposta envolve. É esse o trabalho que tem que ser feito agora, definir qual vai ser o traçado definitivo.
Qualquer opção de cruzar a Serra do Mar parece enfrentar problemas ambientais. Essa proposta da nova descida direta é mais difícil nesse sentido?
A informação que o governo do Paraná deu para a gente é que essa seria a mais fácil. Ela não entrou no PIL exatamente porque não tinha essa definição de qual a melhor forma de descer. Esse é o ponto crítico do projeto. A definição precisa ser feita em conjunto com a área ambiental e a Ferroeste. Até onde eu fui informado parece que já tinha uma discussão com a área ambiental de que essa alternativa seria viável e, portanto, poderíamos trabalhar com ela.
A informação é que a questão ambiental pode ser superada, é isso?
É isso, que esse traçado que eles estão propondo estaria adequado do ponto de vista ambiental. Se não estiver adequado, temos que buscar outras alternativas. A questão de São Francisco entra aí porque lá já existe a linha. Aí precisa ver como é que chegaria a Paranaguá. Nós estamos discutindo agora Cascavel-Paranaguá. Se essa alternativa se mostrar inadequada, temos que buscar outra solução.
O que vai responder essa questão será o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA)?
A gente tem que ter uma indicação de qual é o caminho que nós vamos fazer o EVTEA. Não dá para se fazer um estudo de uma alternativa e depois isso ter um impasse ambiental. A gente tem que ter uma sinalização de que ali é só uma questão de avaliar impacto e definir os cuidados que tem que ser tomados, as medidas compensatórias. Não pode ser assim: eu vou fazer o estudo de um traçado, depois chego à conclusão de que é inviável ambientalmente, depois vou estudar outro. Nós vamos perder tempo, não é? Nós precisamos ter uma diretriz da área de meio ambiente que indique qual é a solução mais viável e vamos ficar nela.
Em quanto tempo é possível ter uma resposta do estudo?
Pelo que eu soube até o ano que vem teríamos que licitar esse projeto. Nós estamos trabalhando com esse cronograma.
Há uma outra discussão que envolve os três estados do Sul que é a extensão da ferrovia Norte-Sul, passando a oeste dos estados, ligando as regiões de produção agrícola. Tem chance dessa proposta ser incluída no PIL?
Tem também. Isso está sendo estudado da mesma forma que a linha Cascavel-Paranaguá. Quando ficar pronto, vamos fazer.
Particularmente, o sr. acha que tem viabilidade?
Pelas informações que a gente tem é viável. A decisão é, concluído os trabalhos, a gente incorpora no programa.
O sr. tem dado declarações de que o PIL não é algo ?fechado?. Como ele ainda pode ser mudado?
Não é mudado. O investimento tem uma etapa. A gente já está preparando o que seria uma segunda etapa. Os projetos que já estão definidos no programa tem um cronograma e estão sendo licitados. Esses outros projetos nós estamos estudando, na medida em que a gente defina o estudo de viabilidade eles entram no PIL e seriam uma próxima etapa do programa.
Como estão as negociações para a cessão do trecho da Ferroeste que pertence ao governo do Paraná?
Ele não precisa ceder, precisa incorporar o trecho ao programa. Eles estão abertos e podemos modelar isso da melhor forma possível. O governo do Paraná está aberto a construir esse modelo, dentro de uma malha ferroviária moderna que está sendo construída. Isso é interessante para todo mundo, para eles e para o governo federal também.
Como o senhor vê a sintonia do governo estadual e federal nessas discussões?
A gente tem conversado desde que mudou o governo do estado, também tenho tido conversas com a Casa Civil sempre propositivas porque há uma convergência de interesses. Tanto o governo estadual quanto o federal querem a mesma coisa, que é criar uma solução logística para o Paraná.
Fonte: Gazeta do Povo Online
Publicada em:: 05/11/2012
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