Viagem é lenta, o vagão mais moderno tem 30 anos de história, mas ninguém reclama. Apesar da fila para entrar, check-in e raio-X estão descartados, assim como o excesso de bagagem e congestionamento.
Edição do dia 13/11/2012
13/11/2012 09h00 - Atualizado em 13/11/2012 09h00
O Bom Dia convida você, leitor, para uma viagem sobre trilhos. Os repórteres Rodrigo Alvarez e Wilson Araújo embarcaram no último trem diário de passageiros em funcionamento no Brasil. Foram 13 horas surpreendentes entre Belo Horizonte e Vitória.
Para viajar no único trem de passageiros diário que sobrou no Brasil é
preciso subir em um avião, pousar em Minas Gerais e pegar um táxi. “Você
vai pagar todos os seus pecados. De trem?”, brinca o taxista.
O taxista que ri da nossa aventura é louco até demais por velocidade.
Passou férias na Europa e ficou vidrado nos trens de lá. “O trem de lá
da França, você tá doido, é muita velocidade e você não sente
absolutamente nada. Cria-se uma, como se fala, um campo magnético, que
ele não encosta naquele negócio. Ele anda suspenso”, conta o taxista.
Sem saber, o taxista fala de um trem alemão que levita sobre um campo
magnético formado nos trilhos. Viaja na China hoje a 430 km/h e deve
entrar na concorrência do governo federal para um trem de alta
velocidade ligando o Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas.
Mas o trem que se vê na beira da estrada viaja lento que nem carro
velho. E é nele que a equipe vai de manhã. O trem parte, sem atraso, às
7h30 e vai mostrando Belo Horizonte de um ângulo que a gente raramente
vê.
Entre Belo Horizonte e Cariacica, no Espírito Santo, vão ser 664
quilômetros. Carregando 57 carros, com a média de 51 km/h, a locomotiva
vai levar 13 horas para chegar ao destino.
Houve um tempo em que o trem era um luxo tão popular no Brasil que
levava 100 milhões de passageiros por ano. Era o equivalente dos ônibus
ou aviões de hoje em dia.
Mas isso foi nos século passado, até os anos 60. Hoje, o trem
derradeiro - mantido por força de um contrato de privatização com a Vale
- leva pouco mais de 900 mil passageiros por ano.
Isso que acontece quando existe oferta de trem para a população: muita
gente na estação de Governador Valadares entrando no trem que vai para
Vitória. Tem fila pra entrar, mas não tem que fazer check-in, nem passar
pelo raio-X, como nos aeroportos. Não tem também nenhuma preocupação
com excesso de bagagem ou congestionamento.
E quando o trem pega embalo. “Conhece muitas pessoas. Fica igual
passarinho pulando de um galho para outro. Se ficar só em um lugar dá
estresse”, brinca um passageiro.
Tem mais de três décadas que uma psicóloga faz esse percurso pra
visitar os parentes. Ela gosta de viajar entre um vagão e outro, de olho
na paisagem. Vai vendo os rios, os campos de mineração, cidadezinhas
grudadas na ferrovia. E acha tudo no trem melhor do que no avião. “Você
sabe que eu prefiro? O avião não tem isso aqui, essa conversa”, conta.
Conversa de corredor e vagão restaurante são exclusividades do trem.
“Não dá pra reclamar não. Feijão tropeiro, arroz, frango e salada”, diz o
repórter.
Tem chuva na estação seguinte, mais uma parada, minério chegando pela
contramão e um anoitecer que fica muito mais bonito pela janela do trem.
Depois de 13 horas, quase chegando a Vitória, é possível discordar
plenamente do taxista que disse que a viagem era um pesadelo. A viagem é
lenta, o vagão mais moderno tem 30 anos de história, mas ninguém
reclama.
“Aqui o pessoal passeia, levanta do lugar, posso ir até o vagão
seguinte, vejo gente diferente”, diz a aposentada Marlenice Esteves.
Raiany Tozi acha, inclusive, melhor que a viagem de ônibus. “Talvez
porque não fique parando, eu acho mais confortável”, aponta a
secretária.
Viajar em um Brasil de antigamente, pensando naquele que pode vir no
futuro. Afinal, em outra velocidade e em muitas outras rotas, nosso país
de dimensões continentais ainda pode reencontrar o caminho dos trilhos.
Clique no link abaixo e assista o vídeo da reportagem:
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Parabéns ao Bom dia Brasil pela reportagem.
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